Índice
1. Introdução
A
cultura é um conjunto complexo que compreende os conhecimentos, as
crenças, a arte, o direito, a moral, os costumes, hábitos e todas
as outras aptidões a que o homem enquanto membro de uma sociedade,
adquire, para além de estas fazerem parte das características de
uma determinada sociedade, e os indivíduos inseridos nesta sociedade
apresentam uma visão de si mesmo como indivíduos, e esta concepção
que o indivíduo tem de si mesmo é construída na interacção com
os outros. Neste trabalho apresentar-se-á a influência que as
culturas individualistas e colectivistas exercem na concepção do
self. Nesta perspectiva primeiramente definir-se-á alguns conceitos
em relação a “cultura” e o “self” propostos por alguns
teóricos; nesta ordem de ideias pretende-se abordar os dois tipos de
self propostos por Markus e Kitayama (1991) a importância de um
grupo para o sentido de self e algumas das consequências cognitivas
que estes tipos de self sugerem aos indivíduos face os seus
contextos sócio-culturais.
Para
efeitos, o trabalho tem por objectivo contribuir para a ampliação
da compreensão da “concepção do Self” levando em conta o
factor “cultura” e a sua influência através das diferentes
interpretações e significações que esta faz das experiencias
vividas pelos indivíduos durante a sua interacção com o outro e
com o meio social. Este texto foi construído com bases na revisão
de fontes bibliográfica que documentam e dissertam aspectos
relevantes em relação ao tema.
Objectivo geral
Compreender
de forma ampla a questão da cultura e concepção do self
Objectivos
específicos
Definir
os conceitos de cultura e de self
Identificar
a relação entre cultura e concepção de self
Ilustrar
a importância de um grupo para o sentido do self
Descrever
as consequências envolvidas na concepção do self
No
séc. XIX, o antropólogo inglês Edward B. Taylor definiu cultura
como sendo um complexo que inclui conhecimentos, as crenças, a arte,
a moral, a lei, os costumes e todos os hábitos e capacidades
adquiridos pelo homem como membro da sociedade (Laraia, 2000. p 17).
Do ponto de vista do grupo, entendeu cultura, como sendo conjunto de
costumes e tradições composto por elementos materiais e não
materiais dotados de suas peculiaridades e que caracterizam o modo de
vida de um povo, alias, a maneira de viver de um povo.
Para
Geertz
(1973) citado em Neto (2002, p.14) “o termo Cultural designa um
padrão de significações transmitidas historicamente e veiculado
por símbolos, um sistema de representações herdado das gerações
precedentes e expresso sob formas simbólicas por meio das quais os
homens comunicam, perpetuam e desenvolvem os seus conhecimentos e as
suas atitudes para com a vida.”
Titiev
(1969), considera o termo cultura como tendo dois sentidos,
referindo-se aos aspectos não biológico da humanidade no seu
conjunto, ou à forma de vida de um determinado grupo de homens e
mulheres, em qualquer caso, sendo usado para descrever a série
completa de instrumentos não geneticamente adquiridos.
2.1 Conceito de self
De
acordo William
James
(1890) citado em Neto (1998, p.143) Self é “o conjunto de
pensamentos e sentimentos que temos acerca de nós mesmos.” É uma
visão não necessariamente objectiva do que somos, porem um reflexo
de nós próprios na maneira como nos percepcionamos. O self é visto
como um conjunto de ideias, percepções e valores que caracterizam o
eu, é uma construção social que se desenvolve a partir da
comparação de nós em relação aos outros ou grupos coletivos.
Para
Alvin & Ribeiro (2005), o self como sistema de contactos que
varia com as necessidades orgânicas dominantes e os estímulos
ambientais prementes, é uma síntese daquilo em que nos tornamos ao
longo da vida, pois o self é construído e reconstruído de acordo o
processo de existência.
O
self como uma identidade do eu, é a nossa auto-imagem, é aquilo que
sentimos quando dizemos: eu sinto; eu penso; o sentido das coisas de
nos mesmos emana dele. É o retracto que fazemos de nos mesmos.
2.2. Características do self
- Único, integrado e dinâmico;
- Construído e reconstruído permanentemente a partir da existência em um campo orgânico-ambiente, ou seja, por meio de contacto com os outros.
- Com um sentido de continuidade, ao qual se poderia referir como núcleo da identidade produzido existencialmente, ou seja, por padrões de relacionamentos automatizados adquiridos ao longo da existência (Alvin & Ribeiro, 2005. P 11).
3. Cultura e Concepção do Self
Neto
(1998, p.159) afirma que o self é construído através da interacção
com a sociedade. Do ponto de vista cultural o nosso sentido de self
combina aspectos privados ou internos do indivíduo e os aspectos
mais externos, ou seja sociais, identificando-se com diversas
culturas ou grupos sociais tais como: grupos políticos, raciais,
religiosos e sexuais. Neto, (2008, p.75)
3.1. A importância de um grupo para o sentido do self
Segundo
Neto (1998), a teoria da identidade social, sublinha que a pertença
grupal é muito importante para o auto-conceito de uma pessoa. A
identidade social parte do auto-conceito que advém do facto de ser
membro de grupos sociais e da identificação com eles, distingue se
da identidade pessoal que é aparte do sentido do self que advém do
conhecimento de que faz parte de grupos particulares na sociedade.
Alguns destes grupos são escolhidos por si e outros são
involuntários.
Muitas
vezes o nosso sentido de valor do self esta ligado ao grupo a que
pertencemos ou com que nos identificamos. Assim, uma proposição
fundamental da teoria da identidade social e a de que os indivíduos
procuram manter ou realizar uma identidade social positiva e
distintiva. Em primeiro lugar, preocupa-se com que o nosso grupo se
possa distinguir de outros grupos, o que nos assegura uma identidade.
Em segundo lugar, estamos preocupados com que os nossos grupos sejam
avaliados positivamente em relação a outros grupos existentes na
sociedade. Para se estabelecer um determinado grupo tem uma
identidade social positiva ou negativa, usa se a comparação social
intergrupal (consiste em comparar se o estatuto e o respeito desse
grupo com outros grupos na sociedade).
3.2. Self Independente e Interdependente
A
construção de Self varia de sociedade em sociedade, pois as pessoas
acreditam serem moldadas pelas relações sociais em que se envolvem
e descrevem-se não tanto em termos de traços duradoiros mas em
termos de relações sociais. Neto (2002, p.75)
De
acordo com Markus e Kitayama (1991), citados em Neto (2002, p.75), o
self na perspectiva cultural divide-se em self
independente
e o interdependente,
de modo que o primeiro é aquele em que as pessoas vê a si mesmas em
particular de forma separada e autónoma do meio que este se insere,
enquanto que o self interdependente é aquele em que resulta da
interacção do indivíduo com o meio no qual ele se insere, ligado
aos outros através das percepções dos pensamentos dos sentimentos
e das acções dos outros. De acordo com Neto (2002, p.75), as
culturas ocidentais promovem o desenvolvimento do self independente,
ao passo que as não ocidentais promovem a self interdependente.
3.2 Consequências das duas auto-representações
Markus
e Kitayama (1991) citado em Neto (2002, p.76) fazem referência a
algumas consequências cognitivas, emocionais e comportamentais que
estes dois tipos de self, o independente e o interdependente sugerem
nos indivíduos.
3.3 Consequência para a Auto-Percepção
Neto
(2002, p.76) faz-nos compreender que dentre os dois tipos de
concepção do self estes apresentam diferentes consequências para o
modo como os indivíduos fazem a sua auto-percepção, neste ponto de
vista os indivíduos com um self independente ao se auto-descreverem
fazem referência aos atributos internos como suas capacidades e
traços de personalidade,
por
outro lado os indivíduos com o self interdependentes salientam muito
pouco atributos internos, fazendo a sua auto-percepção com base nas
percepções dos pensamentos e sentimentos e acções dos outros.
Segundo
neto (2002, p.76) Os resultados do estudo realizado em 1992 na
Holanda por Van Den Heuvel, Tellegen e Koomen, evidenciaram a
influencia que a cultura desempenha na concepção do self, com este
estudo estes teóricos trazem-nos a luz a questão das culturas
colectivistas e da culturas individualistas onde em conformidade com
os resultados deste estudo, crianças de culturas colectivistas
(e.g., Turquia) utilizaram afirmações que indicavam a pertença a
grupos, actividades sociais quando se auto-descreviam, assim como
com para seus colegas, diferente do que aconteceu com crianças de
culturas individualistas (e.g.,Holanda) que utilizaram
características psicológicas, como traços de personalidade e
preferências pessoais em suas auto-descrições assim como de seus
colegas.
Este
estudo mostra uma das consequências cognitivas do self independente
e interdependente, na auto-percepção que o indivíduo faz em
detrimento do seu contexto cultural e com este estudo concluiu-se que
as consequências das diferenças psicológicas significativas
referentes ao self encontradas em indivíduos de culturas
individualistas assim como de culturas colectivistas aparecem desde
cedo durante o desenvolvimento do indivíduo e continuam a
desenvolver-se ao longo do ciclo de vida.
3.4. Consequência para as Conotações das Emoções
Para
Kitayama, Markus e Matsumoto, (1995) citado em Neto, (2002, p.78) as
emoções são classificadas mediante a independência e a
interdependência do self, isto é, os acontecimentos a nível
pessoal ou social ditam e classificam as emoções. Assim
encontramos:
- Em indivíduos com self independente as emoções positivas ou que aumentam a estima são despoletadas ao ver seus objectivos concretizados; emoções negativas são despoletadas quando objectivos são bloqueados, salientando e contrastando estes atributos internos com o contexto social relevante, estas emoções tendem a separar ou descomprometer o self dessas relações; à estas emoções os autores denominam de socialmente descomprometidas.
- Em indivíduos com self interdependente, emoções positivas encorajam laços interpessoais, resultantes de relações íntimas. Emoções negativas motivam a restauração da harmonia na relação, resultante de falta de êxito nas relações íntimas. Tais emoções comprometem o self na relação, aumentando a interdependência com pessoas significativas, estas emoções comprometem o self na relação, aumentando a interdependência; à estas emoções os autores denominam de socialmente comprometidas.
De
acordo com os autores todos experienciamos estas emoções, embora
com intensidades diferentes; os indivíduos que possuem um self
interdependentes têm as emoções socialmente comprometidas mais
intensas e internalizadas; os indivíduos que possuem um self
independente têm as emoções socialmente descomprometidas mais
intensas e internalizadas
3.5 Consequência para a Motivação para a Realização
De
acordo com Barros, Barros e Neto (1993) citado em Neto (2002, p.79)
as motivações para realizar, afiliar-se ou dominar são
características do self interno que orientam os comportamentos mas
do ponto de vista de construção interdependentes do self os
comportamentos sociais são orientados pelas expectativas dos outros
significativos pelas obrigações que se sentem em relação aos
outros.
De
acordo com Yang (1982) citado em Neto (2002, p.79) existem duas
formas de motivação para a realização:
- Orientada Individualmente (mais comum nos indivíduos de países do Ocidente)
A
sua motivação é caracteriza-se pela tendência de orientar-se a
realização de objectivos mais individualistas voltados para a
próprio;
- Orientada Socialmente (mais comum nos indivíduos de países não ocidentais)
A
sua motivação é caracteriza-se pela tendência de orientar-se a
realização de objectivos ligados a outros, orientados pelas
expectativas dos outros.
4. Considerações finais
De
acordo com os dois tipos de cultura respectivamente: Individualista e
Colectivista, o Self é concebido em consequência destes tipos de
cultura acima mencionados e da interacção do indivíduo com os
outros, pois o indivíduo é um ser social, e neste âmbito para
Markus e Kitayama (1991) como citado em Neto (2002, p.76) as
diferentes concepções apresentadas durante o trabalho têm
consequências cognitivas,
emocionais, e motivacionais.
Em
conclusão, o ensaio permitiu a uma melhor compreensão da concepção
do self em detrimento dos tipos de culturas nomeadamente
individualista
e colectivistas,
estas que contribuem de formas diferentes na criação e
desenvolvimento do self dos indivíduos pertencentes às mesmas.
Segundo os estudos feitos pelos autores acima destacados nas
consequências cognitivas, os indivíduos com um self independente
são mais salientes aos atributos internos tais como as suas
preferências, desejos e traços de personalidade, enquanto as
pessoas com o self interdependente são mais salientes a traços
interpessoais, e a sua pertença a grupos ou actividades sociais, ou
seja caracterizam-se enquanto inseridos em um determinado contexto
social. De acordo com os teóricos Markus e Kitayama (1991) como
citado em Neto (2002, p.76) conclui-se que culturas individualistas
como as do ocidente promovem o desenvolvimento de um self
independente, ao passo que culturas colectivistas como as não
ocidentais promovem o desenvolvimento de um self interdependente.
5. Referências Bibliográficas
Alvim,
M.B.& Ribeiro, J. P. (2005). Contacto,
self e cultura organizacional: uma abordagem gestáltica.
Universidade católica do brasil.
Laraia,
R. B. (2000).Cultura:
Um Conceito Antropológico.
Rio de Janeiro.
Neto,
F. (1998). Psicologia
Cultura, um conceito antropológico Social,
vol.1. Lisboa. Universidade Aberta.
Neto,
F. (2002). Psicologia
Intercultural.
Universidade Aberta. Lisboa.
Titiev,
M. (1969). Introdução
Antropologia Cultural.
Lisboa.
De quem é a autoria?
ResponderEliminarDelto C. Muendane
ResponderEliminarExcelente... gostei, o conteúdo é fidedigno. todo o estudante de Psicologia, devia visitar está página.
ResponderEliminarFico feliz que tenha gostado. Recomende aos outros!
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