terça-feira, 24 de outubro de 2017

Parafilias


Índice


  1. Introdução

Segundo Abreu (2005), o comportamento sexual humano é divergente e determinado por uma combinação de vários factores tais como relacionamentos do indivíduo com os outros, a suas vivências e a sua cultura, sendo assim o que é normalidade sexual está relacionado ao facto de a sexualidade ser compartilhada com consentimento mútuo, sem carácter destrutivo de modo a que o indivíduo não entre em contradição com as regras da sociedade em que vive.
A sexualidade humana envolve várias actividades (pensamentos, fantasias, carícias, ente outras) e comporta várias fases (excitação, orgasmo, desejo e resolução).
Tal sexualidade quando satisfeita ou bem-sucedida pode influenciar no bem-estar do indivíduo e mal sucedida pode provocar disfunções ou transtornos a nível biopsicossocial.
O presente trabalho debruça se sobre as parafilias como um tema relacionado com a cadeira de Psicopatologia de desenvolvimento.
Tem como metodologia a revisão bibliográfica.

  1. Parafilias

Segundo Abreu (2005) a palavra parafilia etimologicamente é composta por duas palavras: para que significa paralelo, ao lado de e filia que significa amor ou apego a.
A APA (2013) classifica as parafilias como fazendo parte dos Transtornos de personalidade não especificados, pois esta categoria apresenta sintomas característicos de transtornos de personalidade que causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento biopsicossocial mas não satisfazem todos os critérios para qualquer transtorno de classe de diagnóstico dos transtornos de personalidade.
Sendo assim, a APA (2013) define o termo parafilia como sendo o interesse sexual intenso e persistente que não é voltado para a estimulação genital ou carícias preliminares com parceiros humanos que consentem e apresentam fenótipo normal e maturidade física ou ainda o termo parafilia define como qualquer interesse sexual maior ou igual a interesses sexuais normofilicos.
Abreu (2005), refere que a parafilia esta configurada quando há necessidade de se substituir a atitude sexual convencional por qualquer outro tipo de expressão sexual, sendo este substituto e como a única maneira de excitação sexual, configurando um padrão de conduta rígido, o qual, na maioria das vezes torna se numa compulsão opressiva que impede outras alternativas sexuais.
  1. Transtornos parafílicos

Segundo a APA (2013) o transtorno parafílico é uma parafilia que esta a causar sofrimento ou prejuízo ao indivíduo ou uma parafilia cuja satisfação implica dano ou risco de dano a outrem. Se difere da parafilia em si porque algumas parafilias são descritas como interesses sexuais preferenciais e por a parafilia ser uma condição necessária mas não suficiente para que se tenha um transtorno parafílico e não justifica uma intervenção clínica.
São necessários critérios que facilitam o diagnóstico como o critério A (natureza qualitativa da parafilia) e, critério B (consequências negativas), esta distinção entre transtorno e parafilia é dada nos critérios, para ser um transtorno o indivíduo precisa responder aos dois critérios.

A APA (2013) divide os transtornos em 3 classes:
  • Transtornos de namoro (porque se assemelham a componentes distorcidos do comportamento num namoro) - transtorno voyeurista, exibicionista e fotteurista.
  • Transtornos de algagonia (os quais envolvem sofrimento) - masoquismo sexual e sadismo sexual
  • Preferências por alvo anómalo transtorno pedofílico, tranvéstico e fetichista.
    1. Tipos de transtornos parafílicos

Em geral, os transtornos parafílicos são mais comummente vistos em homens, e o tipo de transtorno parafílico mais comum é a pedofilia.
      1. Exibicionismo

O exibicionismo dá se quando a pessoa mostra seus órgãos genitais a uma pessoa estranha, no geral em local público, e a reacção desta pessoa a quem pegou de surpresa lhe desperta excitação e prazer sexual, mas geralmente não existe qualquer tentativa de uma actividade sexual com o estranho. As pessoas baixam as calças em sinal de pretexto ou ataque a parceiros morais não são exibicionistas, pois não fazem isso com finalidade sexual.
Segundo a APA (2013), há critérios de diagnóstico para este transtorno:
  1. Por um período de pelo menos 6 meses, excitação sexual recorrente e intensa resultante da exposição dos próprios genitais a uma pessoa que não espera tal facto, conforme manifesto por fantasias, impulsos ou comportamentos;
  2. Os impulsos sexuais foram postos em prática sem a falta de consentimento de outrem e causam sofrimento clinicamente significativo que afecta a área social, profissional ou outras áreas relevantes.
Diagnóstico diferencial
O transtorno exibicionista segundo a APA (2013), podem ser comparados a transtornos comórbidos sendo assim há necessidade de determinar uma linha de separação:
Transtorno de conduta e personalidade anti-social
O transtorno de conduta em adolescentes e de personalidade anti-social são caracterizados por comportamentos adicionais como violação de normas e comportamentos anti-sociais, sem estar presente o interesse sexual.
Transtornos por uso de substâncias
Estes transtornos podem envolver episódios exibicionistas isolados por parte dos indivíduos intoxicados sem por isso haver interesse sexual típico de expor os genitais a pessoas sem o consentimento das mesmas. As fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais exibicionistas recorrentes ocorrem também quando o individuo não esta intoxicado.
      1. Fetichismo

O fetichismo traduz se na preferência sexual do indivíduo voltada para objectos, tais como calcinhas, sutiãs, luvas ou sapatos, sendo que a pessoa utiliza estes objectos para se masturbar ou exige que a parceira ou parceiro sempre use o objecto em questão durante o ato sexual, caso contrário não conseguiria excitar se e realizar o acto sexual.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Por um período de pelo menos seis meses, excitação sexual recorrente e intensa resultante do uso de objectos inanimados ou de um foco específico em uma ou mais de uma parte não genital do corpo, conforme manifesto em fantasias, impulsos ou comportamentos;
  2. Fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou no funcionamento social, profissional ou em outras áreas relevantes;
  3. Os objectos do fetiche não se limitam a artigos do vestuário usados em travestismo ou a dispositivos criados para a estimulação genital.
Diagnóstico diferencial
Transtorno transvéstico
Conforme observado nos critérios diagnósticos, o transtorno fetichista não e diagnosticado em casos em que o fetiche se limite a artigos de vestuário usados exclusivamente durante o acto de se vestis como o outro sexo ou caso o objecto de estimulação genital tenha sido feito para esse fim.
Transtorno de masoquismo sexual ou outros transtornos parafílicos
Os fetiches podem ocorrer em simultâneo com outros transtornos sobretudo o sadomasoquismo. Quando o individuo tem fantasias sobre vestir se como o outro sexo ou se envolve em tais actividades, ou, ainda, atinge excitação sexual principalmente sob dominação ou humilhação associadas a tal fantasia ou actividade repetida, deve se fazer o diagnóstico sobre masoquismo.
Comportamento fetichista sem transtorno fetichista
O uso de um objecto de fetiche para excitação sexual na ausência de qualquer sofrimento ou prejuízo da função psicossocial ou de outra consequência adversa associada não atende aos critérios para transtorno fetichista, visto que o limite exigido pelo critério B não e atendido.
      1. Fetichismo transvéstico

É caracterizado pela utilização de roupas femininas por homens heterossexuais para se excitarem, se masturbarem ou realizarem o acto sexual, sendo que em situações não sexuais se vestem de forma normal.
Quando passam a vestir se como mulheres a maior parte de tempo, pode haver um transtorno de género, do tipo transexual por baixo dessa atitude. É importante ressaltar que o fetichismo transvéstico também só é diagnosticado como um transtorno de parafilia quando é feito de uma forma repetitiva e exclusiva para obter prazer sexual.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Por um período de pelo menos seis meses, excitação sexual recorrente e intensa resultante de vestir se como o sexo oposto;
  2. As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo e prejuízo nas áreas relevantes da vida do indivíduo.
Diagnóstico diferencial

Transtorno fetichista
Este transtorno pode assemelhar se ao transtorno transvéstico. Para distinguir o transtorno transvéstico tem que se ter em conta os pensamentos específicos do indivíduo durante tal actividade.
Disforia de género
Indivíduos com transtorno fetichista transvéstico não relatam incongruência entre o género sentido e o género designado nem desejo do outro género. Geralmente não tem história de comportamentos infantis transgénicos os quais estão presentes em indivíduos que apresentam disforia de género.
      1. Frotteurismo

É a atitude de um homem que para obter prazer sexual, necessita tocar e esfregar seu pénis em outra pessoa, completamente vestida, sem o consentimento dela, excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso ocorre mais comummente em locais onde há grande concentração de pessoas, como metros, autocarros e outros meios de locomoção públicos.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Por um período de pelo menos seis meses, excitação sexual recorrente e intensa resultante de tocar ou esfregar se em alguém que não consentiu, conforme manifesto em fantasias, impulsos ou comportamento;
  2. Os impulsos sexuais foram postos em prática sem o consentimento da pessoa e estes impulsos causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento biopsicossocial.
Diagnóstico diferencial
Transtorno de conduta e personalidade anti-social
São caracterizados por comportamentos adicionais de infringir de regra e anti-sociais, o interesse sexual por tocar ou esfregar se em alguém pode estar ausente.


Transtorno por uso de substâncias
Particularmente aqueles que estão relacionados ao consumo de cocaína e anfetaminas podem envolver episódios frotteuristas isolados, mas podem não envolver interesse sexual contínuo típico de esfregar se ou tocar em pessoas sem o respectivo consentimento. Os comportamentos frotteuristas podem não ser observados quando o individuo não esta intoxicado
      1. Pedofilia

Envolve pensamentos e fantasias eróticas repetitivas ou actividade sexual com crianças menores de 13 anos de idade. Está muito comummente associado a casos de incestos, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia envolve pessoas da mesma família (pais/ padrastos com filhos e filhas). Em geral o ato pedofilico consiste em toques, carícias genitais e sexo oral, sendo e penetração menos comum. Hoje em dia, com a expansão de internet, fotos de crianças tem sido divulgadas na rede, sendo que olhar dessas fotos, de forma frequente e repetida com finalidade de se excitar e masturbar-se consiste em pedofilia.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Por um período de pelo menos seis meses, fantasias sexualmente excitantes, impulsos ou comportamentos intensos recorrentes envolvendo a actividade sexual com crianças ou crianças pré-puberes;
  2. Estes impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento intenso ou dificuldades interpessoais.
  3. O indivíduo tem no mínimo 16 anos de idade e pelo menos cinco anos mais velho que a criança.
Diagnóstico diferencial
Muitos transtornos podem ser comórbidos.
Transtorno de personalidade anti-social
Este transtorno aumenta a probabilidade de uma pessoa que tenha uma atracção por principalmente o corpo humano maduro se aproxime sexualmente de uma criança, em algumas ocasiões com base na disponibilidade relativa. Outro sinais o individuo demonstra deste transtorno como o desrespeito recorrente as leis.
Transtornos por uso de substâncias
Os efeitos desinibidores da intoxicação podem aumentar a probabilidade de aproximação sexual a uma criança
Transtorno obsessivo-compulsivo
Alguns indivíduos se queixam de pensamentos e preocupações ego-distonicas acerca duma possível atracção por crianças. Os dados da entrevista clínica podem revelar ausência de pensamentos sexuais por crianças durante estados elevados de excitação sexual.
      1. Masoquismo e sadismo sexual

Existe masoquismo quando a pessoa tem necessidade de ser submetida a sofrimento, físico ou emocional, para obter prazer sexual, e o sadismo é quando a pessoa tem necessidade em infligir sofrimento (físico ou emocional) a um outro, e disso decorre excitação e prazer sexual. O mais comum ao se pensar em sadomasoquismo é associar o sofrimento a agressões físicas e torturas, mas o sofrimento psicológico também pode ser considerado forma de sadomasoquismo, e consiste na humilhação que se pode sentir ou impor. Actos sadomasoquistas só serão considerados parafilias quando forem repetitivos e exclusivos, sendo que quando eles ocorrem ocasionalmente dentro de um relacionamento sexual normal, são apenas formas alternativas de prazer e não uma perversão ou parafilia.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Excitação sexual intensa e recorrente por um período de seis meses, resultante do acto de ser humilhado, espancado, amarrado ou vítima de qualquer outro tipo de sofrimento, conforme manifesto em fantasias, impulsos e comportamentos;
  2. As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo nas áreas relevantes da vida do indivíduo. Pode se especificar seque pode ser com asfixifilia (excitação sexual por restrição da respiração).
Diagnóstico diferencial
Muitas das condições que podem ser diagnósticos diferenciais para o transtorno de masoquismo (fetichismo, sadismo sexual, hiperssexualidade e etc.) ocorrem por vezes como transtornos comórbidos. Assim e necessário avaliar cuidadosamente as evidencias, mantendo a possibilidade de outras parafilias ou outros transtornos mentais. O masoquismo sexual na ausência de sofrimento também pode ser incluído no diagnóstico diferencial, visto que as pessoas que apresentam os comportamentos podem estar satisfeitas com a sua orientação masoquista.
      1. Voyeurismo

Quando alguém precisa observar pessoas que não suspeitam estarem sendo observadas, quando elas estão a despir se, nuas ou no acto sexual, para obter excitação e prazer sexual, pode ser considerado voyeurismo.
Segundo Koch e Rosa (s /d) é importante ressaltar que essas condições só serão consideradas doenças quando forem a única forma de sexualidade do indivíduo, e que a tentativa dele em recorrer a outras formas de sexualidade para obter prazer sexual geralmente serão fracassadas, o que levara a pessoa a continuar insistindo na mesma atitude.
Koch e Rosa (s/d) referem que as parafilias decorrem de alterações psicológicas durante as fases iniciais do crescimento e desenvolvimento da pessoa. Em geral pessoas que apresentam tais problemas não buscam tratamento espontaneamente, o que só acontecerá quando seu comportamento gerar conflitos com o parceiro sexual ou com a sociedade. Sendo assim, tais pessoas aparecem em consultórios psiquiátricos trazidas contra sua vontade ou são presas por serem apanhadas ou denunciadas.
Critérios de diagnóstico
Segundo a APA (2013):
  1. Por um período de pelo menos seis meses, excitação sexual recorrente e intensa ao observar uma pessoa que ignora estar sendo observada e que esta nua, despindo se ou em meio a actividade sexual;
  2. O indivíduo colocou em prática esses impulsos sexuais com alguém sem o seu consentimento ou as fantasias, impulsos sexuais ou comportamento causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo em áreas relevantes da vida do indivíduo;
  3. O individuo que se excita e/ou coloca em pratica os impulsos tem no mínimo 18 anos de idade.
Diagnóstico diferencial
Transtorno de conduta e transtorno de personalidade anti-social
Estes transtornos são caracterizados por comportamentos anti-sociais e contra as normas, e o interesse sexual específico de observar alguém deve estar ausente.
Transtornos por ingestão de substâncias
Estes transtornos podem envolver episódios voyeuristas isolados em indivíduos intoxicados, mas não devem envolver observação de pessoas que estão nuas ou em actividade sexual e os impulsos, fantasias ou comportamentos podem não ser observados quando o individuo não esta intoxicado.
O tratamento é a única saída, mas não é específico. Não há cura porque não tem efectividade segura, seja farmacológica ou psicoterapêutica. Contudo, o indivíduo consegue viver com ela, podendo reduzi-la em frequência e intensidade, e assim controlar sua compulsão, eventualmente até fazendo-a desaparecer com o passar dos anos.


  1. Conclusão

As parafilias são problemas que afectam significativamente a vida do individuo a nível biopsicossocial tornando possível através de tais disfunções o desenvolvimento de transtornos a nível da personalidade como o caso dos transtornos parafilicos, que foi possível notar que estes quando não controlados podem causar dano.
Há transtornos parafilicos que ninguém percebe que a pessoa tem e outros que tem perfil de psicopatas. A pedofilia é um transtorno cuja prática é um crime. A satisfação sexual do indivíduo, na pedofilia, é um crime, no entanto, se ela ocorre só na cabeça do indivíduo, se o indivíduo consegue controlar e apenas vê em imagens e revistas sobre crianças, aí não constitui um crime.
É tarefa do psicólogo conhecer melhor tais disfunções para que este possa intervir e melhorar a qualidade de vida do sujeito.


  1. Referências bibliográficas

  • Abreu.P.I (2005). Delito sexual. Consultado em 12 de Agosto de 2015, em Portal dos psicólogos: www. psicologia.com.pt
  • Koch. S. A & Rosa. D.D (s/d). Disfunção sexual. Consultado em 25 de Julho de 2015, em: www.abcdasaude.com.br
  • Associação de Psicólogos Americanos (2013).Manual de diagnóstico estatístico de transtornos mentais. 5ª Edição. Artmed editora.





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