sexta-feira, 19 de maio de 2017

Cultura Africana e Comportamento Organizacional


1. Introdução

As organizações são um conjunto de pessoas que juntam esforços para alcançar um certo objectivo, e dentre as varias pessoas cada um tem um jeito característico de se comportar, tendo dessa forma que se adaptar um comportamento padrão ou seja um jeito universal de se comportar.
O trabalho em causa é realizado no âmbito da disciplina de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos e tem como foco a cultura africana e o comportamento organizacional.
Para delimitar o rumo deste trabalho traça-se o seguinte como objectivo geral compreender a relação entre a cultura africana e o comportamento organizacional e como objectivos específicos discutir os conceitos de cultura, comportamento e comportamento organizacional, explicar a relação existente entre a cultura africana e o comportamento organizacional e Identificar o impacto da cultura africana no comportamento organizacional.
Como procedimento metodológico, foi usada a pesquisa bibliográfica em livros, artigos e revistas científicas com vista a verificar o que já foi publicado sobre o tema referido e a discussão grupal para dar um sentido lógico aos conteúdos.
Pode encontrar-se neste trabalho a discussão dos conceitos chaves para melhor compreensão do tema, uma breve apresentação da cultura africana, alguns indicadores do comportamento organizacional a relação existente entre o comportamento organizacional e cultura africana.

2. Discussão de conceitos

2.1. Cultura

Significações transmitidas historicamente e veiculado por símbolos, um sistema de representações herdado das gerações precedentes e expresso sobre formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam-se, perpetuam e desenvolvem os seus conhecimentos e as suas atitudes para com a vida, (Geertz, 1973 apud Neto 2002, p.14).
A cultura consiste em padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades ao seu modo de vida (tecnologias, modo de organização económica, padrões de agrupamento social, organização política, crenças, práticas religiosas, etc.).

2.2. Cultura Africana

O Homem africano, à semelhança de outros homens, é um ser predominantemente cultural, graças à cultura, ele superou suas limitações orgânicas. A cultura africana reflecte a sua antiga história, sendo tão diversificada como foi o seu ambiente natural ao longo dos tempos. O continente africano é o território habitado há mais tempo, (supõe-se que foi neste continente que a espécie humana surgiu; os mais antigos fósseis de hominídeos encontrados na África, concretamente na Tanzânia e Quénia) têm cerca de cinco milhões de anos. Sendo o continente mais antigo do planeta e a sua evolução agregou uma enorme quantidade de idiomas com mais línguas, religiões, regimes políticos condições de habitação, actividades económicas e de cultura (Krauss & Rosa ,2007).
O homem africano conseguiu sobreviver através dos tempos com um equipamento biológico relativamente simples.
O povo africano foi sempre considerado um povo sem cultura, primitivo, bárbaro ou seja verdadeiros animais e essa visão só foi alterada quando os primeiros países africanos conseguiram sua independência realizando desde então esforços necessários para recuperar a sua cultura (Krauss & Rosa, 2007).
A maior parte da cultura africana foi transmitida oralmente e a história de seus povos foi contada pelos colonizadores europeus, através de missionários, viajantes, e colonizadores que trouxeram relatos sobre a vida e os costumes dos povos aqui residentes.
No continente africano, a cultura é todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos. O homem age de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi socializado, neste sentido cultura africana é caracterizada pela diversidade de hábitos, costumes, valores e padrões de comportamento e ainda por basear-se nos costumes e tradições (Krauss & Rosa ,2007).


2.3. Comportamento Organizacional



Chiavenato (1999), define comportamento organizacional como sendo o estudo da dinâmica das organizações e como os grupos e pessoas se comportam dentro delas. É uma ciência interdisciplinar. Como a organização é um sistema cooperativo racional, ela somente pode alcançar seus objectivos se as pessoas que a compõe coordenarem seus esforços a fim de alcançar algo que individualmente jamais conseguiriam (Beckard, 1972).
Na mesma linha de pensamento, Araújo (2001), acrescenta referindo que comportamento organizacional é um campo da pesquisa que ajuda a prever, explicar e possibilitar a compreensão de comportamentos nas organizações.
Wagner III e Hollenbeck (1999) citados em Siqueira (2002) entendem-no como uma disciplina que busca prever, explicar, compreender e modificar o comportamento humano no ambiente empresarial.

3. Níveis do comportamento organizacional

Para a análise e compreensão do comportamento organizacional, Robbins (1999) citado em Siqueira (2002) propõe um modelo básico composto por três níveis propondo quais variáveis são de interesse de cada um nomeadamente:
  • Nível individual: neste nível o autor arrola as variáveis biográficas, de personalidade, valores, atitudes e habilidade, pois estas influenciam os processos psicológicos de percepção, motivação e aprendizagem individuais que, por sua vez, afectam o processo de tomada de decisão individual.
  • Nível dos grupos e equipes de trabalho: neste nível a análise é representada no modelo por interacções bidireccionais entre os processos de tomada de decisão grupal, comunicação, liderança, conflito, poder, política, estrutura de grupo e equipes de trabalho.
  • Nível da organização: neste nível o autor relaciona temas como cultura, políticas e práticas de recursos humanos, estrutura e dimensionamento da organização, bem como tecnologia e dimensionamento do trabalho.
Robbins (1999) citado em Siqueira (2002) aponta como resultado do comportamento organizacional a produtividade, o absenteísmo, a rotatividade e a satisfação resultantes da interdependência entre as variáveis integrantes dos níveis de análise individual, grupal e organizacional.


Robbins (2005) coloca que os objectivos do estudo sob comportamento organizacional seriam: explicar, prever e controlar o comportamento humano. Explicar ocorre após o acontecido, por isso explicar no sentido de entender as causas que levam ou levaram a pessoa a se comportar daquela maneira.
Prever está ligado a eventos futuros e, portanto, o estudo do comportamento permite se antecipar aos tipos de comportamento que possam ser apresentados a uma mudança.
Pode-se avaliar o tipo de reacção que os colaboradores teriam a uma tomada de decisão.
Controlar é o objectivo mais controverso no emprego do conhecimento do comportamento humano, na medida em que esse controle não deve ser manipulativo ou ferir a liberdade individual, no entanto, deve-se utilizar o controle de forma ética, e assim permitir que se possa compreender por exemplo, como fazer para levar as pessoas a se esforçarem mais em seu trabalho.
Numa análise profunda do grupo, verifica – se que os conceitos acima apresentados evidenciam os comportamentos dos indivíduos de forma coordenada e complementar que visa atingir um objectivo comum e individual. Segundo Dubrin (2006), esse conjunto de comportamento ocorre de forma grupal, podendo ser grupos de pequena, média e longa dimensão.


4. Relação da Cultura Africana e Comportamento Organizacional

O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado endoculturação ou socialização. Pessoas de raças ou sexos diferentes têm comportamentos diferentes não em função de transmissão genética ou do ambiente em que vivem, mas por terem recebido uma educação diferenciada. Assim, pode-se concluir que é a cultura que determina a diferença de comportamento entre os homens.
Baseando-se na teoria vigotskyana percebe-se que para compreender o comportamento humano em todos os níveis é imperioso, antes de mais nada que se estude e se pesquise a história sócio -cultural dos indivíduos em causa. Essa visão transporta consigo a noção da importância da cultura na compreensão dos comportamentos quer de indivíduos quer de grupos (Marchiori, 2006).

O comportamento organizacional e social em contexto africano, pode ser explicado com base na cultura destes. As crenças, os valores, as percepções, a visão e as tradições africanas jogam um papel fundamental e crucial nos comportamentos dos indivíduos e de grupos (Marchiori, 2006). Deste modo, Krauss & Rosa (2007), defendem que o comportamento organizacional sofre influência da cultura onde a organização está inserida.
Não há dúvidas de que as organizações localizadas nos territórios africanos, têm uma relação directa das sociedades circunvizinhas, deste modo, há uma comparticipação das tradições, das crenças e dos valores culturais destas. Por outro lado, as organizações são sistemas abertos, com isso, recebe muitos estímulos externos que tem impacto directo no comportamento (Krauss & Rosa, 2007).

Devido a natureza da cultura africana, as organizações inseridas em África tomam características próprias que as distinguem de outras organizações localizadas fora da África. Assim, o comportamento organizacional em África, como um campo de estudo das dinâmicas de comportamentos de indivíduos e grupos em contextos de trabalho, tem una natureza característica e própria.
Contudo, para compreender o comportamento organizacional e as dinâmicas ocorridas nas organizações nas culturas africanas, é preciso que se tenha em mente os valores culturais dessas sociedades.

5. Relação tema-cadeira

Tendo a disciplina de Perspectivas Africanas e dos Fenómenos Psicológicos como objectivo compreender os comportamentos desviantes sob o conhecimento colectivo da comunidade e sendo uma organização no contexto africano, para maior adaptabilidade ao meio, esta tem a necessidade de se adequar aos hábitos, costumes, crenças do local na qual esteja inserida, criando assim uma cultura interna que tome em consideração a cultura local e os objectivos traçados pela organização de modo a que não haja grande disparidade na vivência do trabalhador no que se refere a cultura experienciada no seu contexto formal e informal. O tema se relaciona à cadeira na medida em que estuda-se a visão africana dos fenómenos psicológicos nesta e o comportamento organizacional estuda o comportamento humano dentro das organizações.

6. Conclusão

Neste trabalho abordou-se o tema Cultura Africana e Comportamento organizacional e conclui- se que a cultura africana faz-se sentir nas organizações pelo facto de estarem em África e de que as organizações devem ajustar-se a cultura onde estão inseridas porque cada integrante duma organização tem suas crenças, valores e hábitos mas essas características não devem influenciar negativamente as organizações.
Tendo cumprido com os objectivos traçados no inicio do trabalho, concluímos que as organizações não devem ser instituições fechadas e restritas a cultura africana porque é esse conjunto de significações transmitidas historicamente e veiculado por símbolos que fará com que as organizações estejam adequadas a comunidade e ao contexto em que estiverem inseridas.
Este trabalho foi muito importante pois foi a partir do mesmo que foi possível compreender melhor que devido a natureza da cultura africana, as organizações inseridas em África tomam características próprias que as distinguem de outras organizações localizadas fora da África tendo cada, um toque seu embora estando inseridas num único contexto.

7. Referências Bibliográficas:


  1. Araujo, L. S. G. (2001). Organização, Sistemas e Métodos e as modernas ferramentas de gestão organizacional: arquitetura, benchmarking, empowerment, gestão pela qualidade total, reengenharia. São Paulo: Atlas
  2. Beckard, R. (1972). Desenvolvimento Organizacional: estratégias e métodos. São Paulo: Edgard Blücher
  3. Chiavenato, I. (2005). Comportamento Organizacional: A Dinâmica do Sucesso das Organizações. Campus. Dispunível em: http://culturapopular2.blogspot.com/2010/03/os-africanos.html, acesso no dia 01 de 10 de 2012.
  4. Dubrin, A. J. (2006). Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: THomson
  5. Krauss, J. S. & e Rosa, C. da (2007). A importância da temática de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas
  6. Lobos, J. A. (1978). Comportamento Organizacional: literaturas selecionadas. São Paulo: Atlas
  7. Marchiori, M. (2006). Cultura e Comunicação Organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. São Caetano do Sul : Difusão.
  8. Neto, F. (2002). Psicologia Intercultural .Universidade Aberta: Lisboa
  9. Robbins, S. P. (2005). Comportamento organizacional. Sao Paulo: Pearson Education.
  10. Siqueira, M. M. (2002). Medidas do Comportamento Organizacional. São Paulo: Universidade Metodista.

     Autores: 
    Ancha Berta
    Bianca Claudia
    Delto C. Muendane
    Justina Tamele 
    Elcidia Chilaúle
    Luísa Tembe, 2017


Personalidade Africana entre escravatura_colonialismo... POS


  1. Introdução

África é um continente que por muitos anos esteve sob domínio de colonizadores, e os efeitos dessa dominação persistem na actualidade apesar de viver - se em um período em que a independência já foi alcançada. Tais efeitos podem ser verificados em diferentes níveis do povo Africano como é o caso do nível social, económico, e principalmente no nível psicológico onde os efeitos ou consequências são “invisíveis” mas nem por isso inexistentes. Desta maneira, elaborou-se o seguinte ensaio com o tema “Personalidade Africana entre Tradição, Colonialismo e escravatura: Psicologia de Opressão Social”, que surge no âmbito da disciplina de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos e tem os seguintes objectivos:
Objectivo geral
  • Compreender a Personalidade Africana entre Tradição, Colonialismo e escravatura assim como a Psicologia de Opressão Social.
Objectivos específicos
  • Explicar a Personalidade Africana e a sua relação com a tradição, colonialismo e escravatura;
  • Identificar as perturbações mentais ocasionadas pela guerra colonial;
  • Identificar as características da opressão social;
  • Identificar algumas formas de opressão social;
  • Explicar a relação entre o tema e a disciplina de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos.
Metodologia
Para a concretização deste ensaio recorreu-se a revisão bibliográfica em manuais e artigos electrónicos e posteriormente seguiu-se a redacção do texto final, que foi antecedido de uma discussão intragrupal.
  1. Definições e Conceitos

    1. Personalidade:

Existem várias definições da Personalidade propostas pelos grandes psicólogos da Personalidade e diferem entre sí pois cada autor faz a definição de acordo com o seu ponto de vista.
De acordo com (Allport, 1937, como citado em Hansenne, 2003) Personalidade é a organização dinâmica, no seio do indivíduo, de sistemas psicofísicos que determinam o seu comportamento característico e os seus pensamentos.
Com esta definição podemos entender que a personalidade é uma entidade única que traduz a forma como a pessoa pensa, reflete, age e comporta – se em diferentes situações.
Portanto, a personalidade é, segundo o autor supracitado, uma organização dinâmica constituída por inúmeras peças que interagem entre elas e com o exterior, com o meio ambiente.
No que tange a característica relativa a ligação entre a personalidade e o meio ambiente, Leontiev (apud Xavier, 2011) concorda com Allport e diz que as relações sociais não são fatores externos de crescimento, mas sim a própria essência da personalidade.
    1. Cultura

Segundo (Freedman, 1978; Neto, 2002, como citados em Mate, 2016) numa visão psicoantropossocial, definem a cultura como aquela que “compreende o conhecimento, a crença, a arte, a moral, o direito, o costume e todas outras aptidões ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade.”
  1. Prsonalidade Cultural e Personalidade Africana

De acordo com Akbar (s.d), por muito tempo predominaram duas interpretações no que tange a diferença entre crianças Afro-Americanos e crianças Euro - Americanos.
A primeira assume que o comportamento de crianças Afro-Americanas residentes no Norte da América era desviante em relação ao comportamento das crianças Euro-Americanas e devia porconseguinte ser considerada patológico e inferior (Jensen como citado em Akbar, s.d).
Em contrapartida, a outra interpretação assumia que as diferenças eram desviantes sim mas devido ao facto de serem formas adaptativas de comportamento por estas crianças, Afro-Americanas, viverem em ambientes de opressão e pobreza (Kardiner & Ovesey como citados em Akbar, s.d).
As duas interpretações consideram como normal o comportamento típico das crianças Euro-Americanas e todos outros são considerados anormais. Pouca atenção é dada ao facto de ambas crianças apesar de partilharem o mesmo espaço geográfico, terem personalidades culturais diferentes.
Com isso, pode-se compreender que a personalidade pode ser definida em dimensões diferentes sendo uma dimensão individual e outra dimensão cultural.
Do ponto de vista individual, vemos a personalidade como conjunto de características psicológicas que determinam a forma de pensar, sentir e agir de alguém, ou seja, a individualidade de alguém.
Do ponto de vista cultural, a Personalidade ou personalidade cultural seria ,no entanto, o conjunto de características de agir, sentir e pensar de uma pessoa como membro integrante de uma cultura, ou seja, conjunto de características que identificam uma pessoa como membro de uma determinada cultura. Daí que, Personalidade Africana, é o conjunto de características distintivas de uma pessoa de cultura Africana que se encontra na África ou na diáspora.
  1. Tradição

Segundo Silva & Silva (2006) a palavra tradição teve originalmente um significado religioso que seria doutrina ou prática transmitida de século para século pelo exemplo ou pela palavra. Mas o sentido se expandiu, significando elementos culturais presentes nos costumes, nas Artes, nos fazeres que são herança do passado.
Em sua definição mais simples, tradição é um produto do passado que continua a ser aceito e atuante no presente.

A tradição tem, na perspectiva sociológica, a função de preservar para a sociedade costumes e práticas que já demonstraram ser eficazes no passado.
Para Boudon e Bourricard, é corriqueira a oposição entre sociedades tradicionais e sociedades industriais. Para esses autores, é muito mais interessante hoje o uso do conceito de tradição do que de sociedades tradicionais, pois tradição é algo que pode existir em todas as sociedades, inclusive nas industriais.
  1. Tradição Africana

De acordo com Cezne (s.d), a escassez de documentos dificulta a pesquisa e ao mesmo tempo nos leva a estar continuamente em contacto com os mais velhos, os sábios, para poder aprender e apreender algo directamente da tradição oral.
Tendo presente toda esta complexidade falaremos sobre “Tradição” em África a partir da experiência pessoal de alguns autores, daquilo que aprenderam em contato com anciãos e anciãs Moçambicanos.

A religião tradicional
Para a Cezne (s.d), quando fala - se de tradição em África é necessário fazer referência imediata a dois grandes e fundamentais pilares: a religião e os antepassados.
Os Africanos não têm religião, eles são religiosos”. A religião é algo que interfere no modo de sentir, de viver e de agir do africano. Toda a cultura está centrada nos mais velhos e antepassados, isto é, aqueles que mesmo mortos são concebidos como actores sociais dentro do grupo, participam da vida do grupo o influenciam. É o antepassado quem dita as regras e normas de conduta, é o antepassado quem manda a chuva, fecunda a terra e as mulheres.
São estas crenças que de certo modo regulam as relações sociais e humanas e são celebradas através dos vários ritos entre os quais estão os de iniciação que são verdadeiras escolas de aprendizagem.
A iniciação representa uma instituição fundamental para a formação da personalidade. Ela prepara o jovem e a jovem para terem uma atitude perante a vida, a sociedade e o universo.

A partir desta leitura, pode-se perceber que a autora tenta transmitir esta característica da religiosidade Africana do ponto de vista da essência do conceito o que está além da própria palavra. É sabido que no campo religioso encontramos as grandes religiões como o Cristianismo, o Judaísmo, o Budismo, o Islão e outras que desde cedo já tinham um padrão do que era uma religião. Todas elas tinham por seguiam por exemplo, uma doutrina, tinham um templo para os seus cultos, tinham um livro religioso que seguiam, rezavam a um Deus ou vários Deuses entre outras características. Em contrapartida, os africanos viviam a religião no seu dia a dia mas fora do padrão acima desctito. A religiosidade do Africano é caracterizada por cultos em baixo de uma árvore (Kupalha), comunicação com os seus antepassados, ritos de iniciaçao entre outras práticas diferentes das práticas ocidentais. É daí que surge essa menção a religiosidade do Povo Africano apesar de ser diferente do padrão das religiões Ocidentais.

    1. Colonialismo

De acordo com o estudo apresentado por Cezne (s.d), o encontro entre o mundo individualista ocidental e o mundo colectivista Africano deu - se através da colonização e das missões que deram lugar a crises profundas e radicais. A maioria dos colonizadores tinham um espírito de exploração e de dominação, por isso desprezaram a autoridade dos anciãos, desestruturaram as famílias, interferiram nas estruturas sócioreligiosas e nos espaços geográficos começando assim um processo de destruição das identidades dos povos Africanos com a imposição violenta e arbitrária de uma nova cultura e mentalidade, aquela de submissão aos brancos. Os missionários contribuiram com os governos coloniais e impuseram uma cultura e uma religião totalmente estranha àqueles povos.
Evangelizar significava “civilizar”. De acordo com os parâmetros ocidentais, significava educar para ser um “assimilado”.
Os Portugueses, por exemplo, acreditavam que haviam melhores possibilidades de um Africano tornar - se "espiritualmente" Português se fosse católico romano. E assim o cristianismo conseguiu imporse tirando o assimilado ou convertido, do seu mundo cultural, religioso e familiar.
    1. Escravatura

No período da colonização ocorria o tráfico negreiro. Eram buscados negros na África para trabalhar como escravos nas colónias, esses eram conseguidos pelos europeus por negociação com as tribos vencedoras e os escravos eram trocados por mercadoria de pouco valor na Europa como o tabaco (Ferreira, et al, 2008).
O fenómeno escravatura durante os séculos XV- XIX trouxe trágicas consequências para a psique do homem africano. Nascimento e Medeiros (2010) citados por Lima (2013), apontam como as principais consequências da escravatura a marginalização e a segregação, para este autor estas consequências manifestaram-se durante o período colonial e estendem-se até os dias de hoje, tanto em África como fora. Para além destas consequências, a escravatura expôs o homem africano, a impor-se aos valores, crenças, mitos ocidentais, ou seja fazendo com que seus valores e crenças de origem fossem extintos ou negados pelo próprio africano.
    1. Perturbações mentais produzidas pela guerra colonial

Nesta secção é ilustrado o problema das perturbações mentais nascidas da guerra de libertação empreendida pelo povo argelino, e também os efeitos da guerra na população da Ilha de Josina Machel.
  1. Caso de Argélia
De acordo com Fanon (1968), a colonização francesa na Argélia trouxe consequências catastróficas em diversos níveis do individuo, principalmente o nível psíquico.
Muitos argelinos apresentaram perturbações mentais decorrentes das situações em que foram expostas.
Algumas das perturbações são: a impotência em alguns argelinos que assistiram o estupro das suas mulheres ou filhas, pulsões homicidas em jovens que sobreviveram de liquidações colectivas (alguns jovens que sobreviveram em homicídios colectivos apresentavam comportamentos homicidas, tentavam várias vezes tirar a todo custo a vida dos que lhe rodeiam), psicose ansiosa grave, entre outras (Fanon, 1968).
Segundo Fanon (1968), outros argelinos apresentaram modificações afectivo-intelectuais e perturbações mentais após a tortura, como as depressões agitadas (doentes tristes, deprimidos, que passam a maior parte da tempo acamados, evitando qualquer contacto e, bruscamente, manifestam uma agitação muita violenta cuja significação é sempre difícil compreender). Em torturas com electricidade por exemplo os pacientes apresentavam fobia de electricidade e apatia.
Alguns eram injectados várias vitaminas e outras substâncias, para depois interroga-los, e estes podiam apresentar estereótipos verbais (o doente repetia a todo o instante frases como “Eu não disse nada, Acreditem, não falei”), fobia de toda conversa a sós com alguém (esse medo decorre da impressão aguda de que a qualquer instante se pode ser novamente interrogado) (Fanon, 1968).
Alguns argelinos apresentaram perturbações psicossomáticas, como dores fortes de estômago (que se faziam sentir principalmente à noite, com vómitos persistentes, emagrecimento, tristeza, melancolia, taquicardias paroxísticas (o ritmo cardíaco acelera bruscamente, acompanhado de angústias, impressão de morte iminente) (Fanon, 1968).

  1. Caso de Ilha Josina Machel
Foram estudados os efeitos da exposição a violência na Ilha Josina Machel em crianças e jovens, tendo ao nível individual se classificado os distúrbios prevalecentes em cinco categorias, nomeadamente a socialização, personalidade, capacidades cognitivas, respostas psicossomáticas e respostas contextuais especificas.
Percebeu-se que as crianças e jovens de Ilha da Josina Machel evidenciaram alguns efeitos psicológicos e sociais devido a exposição a violência como problemas de auto-estima e formas de comportamentos inadequados nas crenças, sentimentos de abandono, culpabilidade por parte das famílias pela incapacidade de proteger as crianças, e perda de respeito pela autoridade, manifestado em conflitos familiares relacionados com a autoridade (Junior, Mahumana, Jesus, 2014).
Segundo Junior (2014) os efeitos provocados pela exposição a violência não cessaram nos domínios psicológicos e sociais, são também evidenciados efeitos psicológicos ao nível da comunidade, ou seja, os vínculos sociais dentro da comunidade enfraqueceram
  1. Psicologia da opressão social

De acordo Ratner (2013), Tabensky explica-nos que a psicologia da opressão social aborda os complexos da vítima que contribuem para sua opressão, por exemplo o complexo de inferioridade do negro, o complexo da capacidade intelectual do negro.
    1. Características da opressão social
De acordo com Freira (1974) citado em Boals (2005) a opressão social apresenta as seguintes características:
  • Caráter desintegrativo: na medida em que as minorias vão se submetendo as maiorias o seu poder e domínio, entram em declínio social e perda da identidade.
  • Manipulação: as elites dominadoras tentam conformar e controlar as massas populares e seus objectivos com vista na imposição dos seus próprios conceitos e ideologias.
  • Invasão cultural: é a inserção forcada que protagonizam os dominadores no contexto cultural dos dominados, impondo estes a sua visão do mundo enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão.
Zatti (2007) citando Freire (1983), aponta quatro características básicas da Opressão, descrevendo-a como sendo uma situação de Heteronomia, negação da liberdade humana e do seu carácter criativo e criador; Alienante, ou seja, leva o ser humano a ser para outro e ser menos, uma realidade Desumanizante, que atinge aos que oprimem (opressores) e aos oprimidos e, mais grave ainda, uma situação de Auto desvalorização (quando o oprimido introjecta a visão que o opressor tem de si, considerando-se incapaz, enfermo e inculto).
As características acima referidas são algumas daquelas que podem ser observadas, sobretudo no contexto da colonização onde, a elite colonizadora impõe seus hábitos, costumes, regras, formas de convivência entre outras com o objectivo de deteriorar os valores culturais do indivíduo o que, em alguns casos, provoca a introjecção das ideias alienantes do opressor.
    1. Formas de Opressão Social
A opressão social como fenómeno real e concreto, apresenta-se em diversas formas e situações a nível da cultura, do indivíduo e do contexto.
Woodson (1990) citado por Nobles (1996), propõe como forma de opressão social o embranquecimento que é um ataque psicológico que segundo eles era uma forma de "clarear a raça" negra, através da imposição directa ou indirecta da cultura eurocêntrica em vários contextos de África. Com esta forma opressiva a elite dominadora buscava conforme afirmou Woodson (1990) citado em Nobles (1996), controlar os pensamentos do homem africano.
Por outro lado Podolski (2015) traz alusão a segregação como forma de opressão social, pois esta caracteriza-se por ser a separação de grupos em virtude de diversos factores como: a raça, o poder aquisitivo, religião, etnia, educação, nacionalidade ou qualquer outro factor que possa servir de meios de descriminação. Por exemplo. O regime do APARTHEID na África do Sul.
  1. Considerações finais

Pode-se perceber que tanto o colonialismo como a escravatura, que fizeram parte do passado histórico dos povos africanos em geral e em particular da diáspora, trouxeram alterações na forma de ser e de pensar dos povos africanos e implicações substanciais sobre sua personalidade.
De igual forma a elaboração deste trabalho possibilitou-nos perceber que a personalidade africana é um constructo ainda em construção, apesar de considera-se que os aspectos históricos tais como o colonialismo, a escravatura e a ideologia de opressão social, tenham contribuído grandemente na sua actual forma, ela continua em construção, e nos dias actuais os fenómeno globalização e a forte aculturação que o povo africano vem sofrendo, vêm contribuído para a criação de uma nova face a este constructo, com isso mostra-se a urgente necessidade do homem africano procurar exaltar e enaltecer a sua africanidade sob pena de ser aculturado por completo e perder sua essência.
Para o grupo estudos deste âmbito para um psicólogo são de estrema importância porque trazem subsídios importantes no decorrer da actividade deste profissional, porque este vai poder perceber a dinâmica e o eu do funcionamento do homem, quer seja no contexto clínico, social e comunitário, assim como no contexto laboral. 
 
  1. Referências

  1. Akbar, N. (s.d). Cultural expressions of African Personality. Acedido a 08/03/2017, disponível em: http://www.naimakbar.com/documents/Cultural_Expressions_of_African_Personality.pdf
  2. Cabrera, T.L. (2014). Reflexões acerca do conceito de personalidade:
  3. Abordagens histórico-cultural com base em leontiev.
  4. Acedido a 08/03/2017, disponível em: http://www.dfe.uem.br/TCC-2014/TAMIRES-LAYLA_CABRERA.pdf
  5. Cezne, I.D.O. (s.d). Tradição Africana: Espaço crítico e libertador. Acedido a 08/03/2017, disponível em: http://www.missiologia.org.br/cms/ckfinder/userfiles/files/Irene.pdf
  6. Ferreira, F. M., Pimenta, L. T. B., Paula, M. D., Silva, O. H. R., Takami, S. T. (2008). África De ontem, África de hoje, resquícios de permanência? Revista de História Comteporania,n.2.mai-out.
  7. Fanon, F. (1968). Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S. A.
  8. Júnior, B. Mahumana, N. & Jesus, J. (2014). O que é saúde mental. Escolar Editora: Lisboa.
  9. Lima, M. (2013). Identidade africana. Disponível em www.academia.edu/9301190/constru%c3%A7%C3%A30-da. Recuperado aos 09 de Março de 2017
  10. Ratner, C. (2013).ThePsychologyofOppressionTheEncyclopediaofCriticalPsychology Disponível em http://www.sonic.net/~cr2/psych%20of%20oppression.htm Recuperado aos 09 de Março de 2017.
  11. Mate, I.G.L. (2016). Violência Doméstica e o Papel das Crenças Culturais na Perspectiva das Vítimas e Agressores: Um Estudo Fenomenológico .Acedido a 08/03/02017, disponível em:
  12. Silva .Acedido a 08/03/2017
  13. Nobles, W. (2009). Sakhu Sheti: retomando e reapropriando um foco psicológico afrocentrado. In: E. L. Nascimento, Afrocentricidade: uma abordagem inovadora (Vol. Sankofa: matrizes da cultura brasileira, pp. 277 - 298). Sao Paulo: Selo Negro.
  14. Silva, K.V & Silva, M.H. (2006). Dicionário de Conceitos Históricos: Tradição. São Paulo
  15. Xavier, L.A. (2011). O CONCEITO DE PERSONALIDADE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PSICOLOGICA HISTÓRICO-CULTURAL .Acedido a 08/03/2017, disponível em: http://www.abrapee.psc.br/xconpe/trabalhos/1/155.pdf

Desafios da actuação do Psicólogo em África


  1. Introdução
Os fenómenos existenciais da humanidade incluindo os psicológicos, em África são interpretados com b011).
A psicologia ocidental durante muito tempo tem-se mostrado em algumas situações não eficiente para resolver os problemas psicológicos Africanos, devido as diferenças culturais entre o Ocidente e a África, e as leis humanas que regem o povo africano em particular o Moçambicano, (Sabune, 2011).
O pensamento ocidental sempre procurou manipular a identidade colocando sempre o africano como um ser não pensante, alegando que o africano era primitivo, supersticioso, não civilizado, sem história, (Sabune, 2011).
Assim como a psicologia ocidental, a psicologia africana deve abordar temas como o bem-estar, cultura, personalidade, aquisição da linguagem, o comportamento humano, construção da família, a atitude de se relacionar com o outro, (Sabune, 2011).
O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos, como forma de fazer menção a interpretação dos fenómenos psicológicos, visto que não há povo sem cultura. Na antiguidade os fenómenos psicológicos do povo africano eram interpretados e tratados com base cultural, isto é através da medicina tradicional.
Assim sendo a psicologia em África ainda é um grande desafio, pois a saúde mental é considerada como uma área da medicina que se dedica ao tratamento de doentes mentais “malucos”.
O mesmo tem como objectivo geral: Compreender os desafios que a Psicologia Africana tem no mundo contemporâneo, tendo em conta que esta tem suas origens no ocidente. E objectivos Especificos: analisar os fenómenos psicológicos africanos fazendo uma relação com o mundo da globalização, e explicar até que ponto essa globalização afecta a cultura Africana, particularmente em Moçambique.
O trabalho tem como estrutura, introdução, surgimento da psicologia como ciência, historial da psicologia africana, colonização da psicologia africana, componentes da psicologia africana, teoria e terapia da psicologia africana, interpretação dos fenómenos psicológicos em áfrica, desafios da actuação da psicologia em áfrica, relação do tema com a cadeira, conclusão e referências bibliográficas.

Para elaboração do mesmo recorreu-se a manuais que abordam o tema, alguns artigos da Internet, e discussão intragrupal.



  1. Surgimento da psicologia como ciência


Teles (2003) define a psicologia como a ciência que busca compreender o homem e seu comportamento, para facilitar a convivência consigo próprio e com o outro.
De acordo com Barbosa (2012), Desde a Grécia antiga que o homem teve a necessidade de se conhecer. Alguns filósofos preocupavam-se em definir a relação do homem com o mundo através da percepção. William James John Watson, Pavlov e Wundt deram a sua contribuição para o desenvolvimento científico da psicologia com várias teorias, entre elas podemos referir o Behaviorismo, o Estruturalismo, a Psicanálise e o Construtivismo.
O estruturalismo é defendido por Wundt e vai de encontro com a organização estrutural dos processos mentais que se associam. Wundt procurou decompor a mente nos seus elementos simples, as sensações. Médico, filósofo e psicólogo, Whundt é considerado um dos fundadores da psicologia moderna. Desta forma a psicologia surge como um ramo da filosofia sendo o primeiro ramo especifico a seguir. Foi no século XIX com Wundt que a psicologia afirmou como ciência, Wundt foi o criador do primeiro laboratório de psicologia em 1879 e nele foram medidas e classificadas as sensações no seu aspecto visual, táctil, olfactivo e cenestésico.

  1. Historial da Psicologia Africana

Alguns autores como, Ignácio Martí-Baró, Wade Nobles e Akbar por exemplo, não concordam com a visão dos psicólogos Afro-americanos quanto a representatividade da psicologia Euro-americana como uma psicologia que pode ser universalmente representativa.
Eles partem de principio que os brancos que estudaram o passado dos africanos acabaram distorcendo a história negra, as práticas religiosas e os costumes eram tidos como superstição. Os cristãos olharam para os Africanos como pagãos e assim bombardearam com ideais negativas a cultura negra, obrigando-os a adotar a cultura europeia. Deste modo os verdadeiros escritores e poetas de África foram emudecidos pelo fato da Psicologia ter sido importada como uma coisa já feita no Ocidente.
Posto as críticas feitas pelos intelectuais Africanos, devemos destacar outro ponto ao qual os mesmos dão uma maior ênfase, que é revelar a verdadeira cultura negra, a própria holística do africano.
Enfatiza-se o fato de que o ser humano precisa ser considerado como sendo um todo, no entendimento africano não somos apenas racionais mas também afetuosos. Assim podemos concluir que o individuo não pode ser estudado isoladamente do seu contexto histórico, social e geográfico, (Cardoso, 2008).
Segundo Cardoso (2008), os brancos recebem a colonização mental passivamente, pois os mesmos vivem uma condição de supervalorização enganosa de sua aparência na ideia imposta sobre o ser branco. Isto impede o individuo de reconhecer outras formas de ser e de viver o mundo que é igual para todos. Sem esta concepção os brancos recusam reconhecer a humanidade do outro, neste caso indígenas e afrodescendentes. Estas pessoas perderam a capacidade de reconhecer que o outro pode ser diferente mas nem por isso deixa de ser humano.

A Psicologia Africana contou com o contributo do Fanon que foi um psiquiatra que reflectiu acerca da aplicação de princípios psicológicos na África contemporânea. A contribuição de Fanon não se cingiu apenas em aspectos ligados ao colonialismo mas também aos efeitos que a própria colonização causou ao africano. Ele trabalhou com a psicologia das pessoas colonizadas (antes e depois), como também com a psicologia da mentalidade colonial. As contribuições de Fanon ocorreram durante os anos cinquenta e inicio dos anos sessenta, e estas iluminaram o africano rumo a descolonização, pois, neste período muitos países colonizados lutavam pela libertação nacional, (Sandes, 2011).
Ele rejeitou o foco ontogenético de Freud no complexo de édipo, e propôs uma perspectiva sociogenética, enfatizando a importância de factores culturais e sociológicos do comportamento (Fanon citado por Sabune, 2011).


De acordo com Sandes (2011), em Freud, o complexo de Édipo é o núcleo constitucional da subjectividade. Foi neste núcleo que Freud estabeleceu o elo para sua analogia entre o desenvolvimento da libido individual e o desenvolvimento da civilização do indivíduo, realizando uma extensão da psicologia individual à psicologia das massas.
Fanon também discordou com a concepção da inconsciência colectiva de Jung, discutindo que esta era uma questão filogenética de disposições herdadas, afirmando que a inconsciência colectiva, recorrendo ou não aos genes, é pura e simplesmente a soma de preconceitos, mitos, atitudes colectivas de um determinado grupo. (Fanon citado por Sabune, 2011).

Segundo Jung citado por Modelli (2009), o inconsciente colectivo, possuía sentimentos, pensamentos e recordações que condicionavam cada sujeito (desde seu nascimento), inclusive, em sua forma de simbolizar os sonhos. Ou seja, o modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se dentre outras, a herança genética, as influências familiares e as experiências que o indivíduo teve ao longo de sua vida.
A sociogénese de Fanon poderá sugerir uma afinidade mais íntima a Adler do que a do Freud e Jung. Porém, ele não está totalmente de acordo com Adler. Embora a psicologia de Adler considera factores sócio patogénicos no desenvolvimento de problemas de saúde mental, a sua psicologia continua centrada na dinâmica de egos distintos dentro da família, sem incorporar a família num contexto sócio histórico e cultural, (Sandes, 2011).

  1. A Colonização da Psicologia em África

Os poetas e escritores de África, a voz da comunidade psicológica nas suposições ideológicas da disciplina, foram relativamente emudecidos. A razão mais óbvia é o facto de a Psicologia ter sido importada como um produto já feito do Ocidente. O debate sobre as regras e a orientação da Psicologia nas sociedades africanas ocorreu dentro de constrangimentos de paradigmas contemporâneos. Akin-Ogundeji (1991) lamenta o facto de a Psicologia em grande parte dos países de África (Nigéria) cingir-se ainda em pesquisas de sala de aula, principalmente interessada com os rigores de trabalho empírico, que são de pouca relevância prática para os problemas da vida na sociedade contemporânea. Os relatórios de pesquisa são muito “artificiais”, "seco", "sem sentido", ou "irrelevantes" e para serem significantes Akin-Ogundeji clama por fundamento da Psicologia africana dentro das realidades socioculturais e das experiências humanas na África.
Nsamenang citado por Holdstock (2000), diz que a Psicologia de natureza Eurocêntrica importada para África é questionável quanto a sua relevância para o continente Africano. Os métodos de pesquisa convencionais são incapazes de acessar e avaliar as perspectivas do desenvolvimento do africano. Ele problematiza a importância da cultura no desenvolvimento, e defende a contextualização no sentido de se ter uma compreensão do desenvolvimento humano em África. As metodologias de pesquisa precisam ser contextualizadas, as ferramentas de avaliação têm que ser sensíveis à cultura.  
Segundo Sandes (2011), na altura do Apartheid, na África do Sul verificaram-se divergências de opiniões quanto ao modo de exercício da Psicologia. Um grupo (o grupo dominante-brancos) defendia o uso do estado actual psicológico como ponto de partida. Outro grupo (negros) clamava por uma revisão do estado actual da Psicologia. Os que aderiam à manutenção do estado actual da Psicologia (o grupo dominante) descreveram-se como “progressivos”, “liberais”, e “políticos”. São indivíduos deste grupo que na maioria dos casos administrou psicologia nos moldes tradicionais (psicologia ocidental), e que foram acríticos sobre as políticas da disciplina durante a era de apartheid.

  1. Componentes da Personalidade Africana

Segundo Nogueira (2013:99) citando Abkar (2004), A orientação da Psicologia Africana é centrada na natureza, tomando como norma a natureza do ser humano e o funcionamento da natureza em geral, e a partir desta orientação Abkar (2004), postulou um modelo africano de personalidade humana que é significativo e universal, e se pretende livre de premissas etnocêntricas. Este modelo descreve que o ser humano manifesta a vida em diferentes planos: físico, mental e espiritual, nos quais estes planos apresentam uma unidade entre si.
Para os africanos a pessoa é vista como um espírito em sua essência, possuindo componentes físico e mental como instrumentos para o crescimento e desenvolvimento espiritual, sendo este o propósito último da existência.

5.1- O componente físico

A característica mais proeminente do organismo físico é a sua orientação para a sobrevivência, ou seja, para a manutenção da sua existência. O recém nascido responde imediatamente a fome, a sede e a dor, não sendo necessária nenhuma lição sobre "como tornar-se uma pessoa" para experimentar um prazer genuíno quando aliviamos a fome. Mesmo as formas do controle voluntário são orientadas para a preservação do corpo, como é o caso do sistema homeostático e do sistema de defesa (Abkar, 2004).
Na componente física, a doença significa a existência de processos que ameaçam a sobrevivência do organismo e o ser humano normal ou saudável é aquele que é cauteloso e protege a sua vida em todas dimensões, sendo que a dimensão física não é o objectivo maior da vida, os planos mental e espiritual são as dimensões mais elevadas da existência.

5.2- Componente mental

Segundo Nogueira (2013) citando Abkar, a inteligência ou a esfera mental é uma dimensão da vida, e que sua efectividade pode ser avaliada pelo grau em que ela preserva e perpetua a si mesma. É possível afirmar que assim como o corpo manifesta a fome precisa se alimentar (comida) para manter-se fisicamente, a mente tem uma fome paralela; a fome da mente é nutrida pelo conhecimento que traz luz, orientação, direcção, discriminação e efectividade para o ser humano, este conhecimento que alimenta e perpetua a vida é a comida da mente. Da mesma forma que o corpo, a mente é naturalmente equipada com uma fome por tal conhecimento. A curiosidade é a fome da mente.

5.3- Componente espiritual

Vários escritores da visão do mundo africana sustentam que o ser humano é intimamente ligado com a força suprema no universo através da vida espiritual, espírito este que representa o potencial humano para a perfeição desde antes do nascimento e através da essência eterna que continua após a morte. O espírito é a dimensão transcendental da pessoa que é da mesma substância do Divino (Nogueira, 2013).
A estagnação da ciência ocidental no mundo empírico esconde a maior parte das dimensões mais amplas da natureza e do ser humano. O fracasso avassalador da Psicologia para resolver a grave crise mental do mundo ocidental contemporâneo e de seus habitantes é em parte devido à sua incapacidade de reconhecer a essência espiritual do ser humano (Akbar, 2004 : 149).
Segundo Nogueira (2013 :103) citando Abkar, a concepção profunda africana é a de que os humanos são essencialmente espirituais, a sobrevivência do espírito representa a sobrevivência última do ser humano. Os planos físico e mental operam como canais para a sustentação, transmissão e crescimento da vida espiritual. É possível dizer que a vida física e a vida mental abastecem a vida espiritual, porém a vida espiritual é capaz de se manter na ausência de uma ou de ambas. O espírito também tem fome, a fome do espírito seria a fome metafísica, a fome pelo infinito, pelo transcendente e pela perfeição. O corpo tem fome de ingredientes finitos (comida, experiência sexual, reprodução ) enquanto que a mente tem fome de conhecimento, iluminação, ordem e comunicação. A vida espiritual tem fome do universal, do transcendente, fome de Deus.
  1. Teoria e Terapia na psicologia africana

Segundo Nobles (2009), na psicologia africana exige-se que se obtenha uma compreensão profunda da pessoa africana mediante a pesquisa, o estudo e o domínio do processo de iluminar o espírito ou a essência humana.
Para os africanos o entendimento africano exige a explicação dos fenómenos, bem como o funcionamento da natureza (essência) do ser humano.
Para Nobles (2009), a África e as coisas africanas devem ser examinadas e apreendidas no espaço africano e não ocidental com significados e aplicações africanas. Agir de forma contrária vai limitar o conhecimento africano e suas inspirações ao campo de visão dos instrumentos e das interpretações europeias.
  1. Interpretação dos fenómenos psicológicos em África

Nobles (2009) recomenda que as coisas africanas devem ser examinadas e apreendidas no contexto africano, pois a psicologia Ocidental não pode compreender as crenças de povos africanos.
Nobles (2009) em sua obra refere que quando se explana a respeito da psique africana, logo tende-se a procurar explicações nas abordagens psicológicas ocidentais, o que leva a se cometer erros de interpretações a respeito da como e a visão africana, ou seja, a forma como os africanos vêm o mundo. Neste sentido, a perspectiva africana não vem no sentido de descartar ou negar completamente a perspectiva ocidental, mas sim está contra o princípio negativo causado pela supremacia ocidental nas suas relações de poder e violência, dentre elas a escravidão imposta por eles à milhares de africanos durante centenas de anos, que muitas vezes levou à alienação, aprisionamento psicológico e mortes de milhões de africanos.
No entretanto para se compreender os elementos constituintes da mente africana, precisa-se ter em conta, primeiramente, a compreensão da visão que os africanos têm do mundo e os seus significados e significantes, pois é o elemento base do entendimento da concepção do que é ser, humano ou pessoa, na perspectiva africana (Nobles citado por Barros, 2011).
Neste caso, é importante que a África e os fenómenos africanos sejam examinados e apreendidos no contexto africano, ou seja, com significados, ideias e aplicações africanas. Agir de outra forma, que não se adequa ao contexto africano, significa dar primazia às abordagens ocidentais, restringindo a forma de interpretar e intervir nos fenómenos africanos e anular o conhecimento do povo africano (Nobles, 2009). Contudo, é inevitável o uso da psicologia ocidental, na medida em que ela fornece métodos e técnicas cientificamente consagrados para a interpretação e intervenção dos fenómenos psicológicos, independentemente da sua origem, sendo apenas importante a sua contextualização.

Com o advento da globalização, que resultou na fusão de culturas, conhecimentos, economia, política, arte, através dos mídia, o povo africano (nós), tendem a perder cada vez mais a sua identidade, passando maioritariamente a se identificar como o outro. Apesar de a globalização ter seus aspectos positivos, como expansão do conhecimento científico, desenvolvimento económico, troca de experiência e intercâmbio cultural, ela põe em causa as manifestações culturais de alguns países da periferia, particularmente os países africanos
A psicologia Africana nasceu para explicar os fenómenos que a Psicologia ocidental esta limitada, pois a psicologia negra (sakhu sheti) exige que se respeite a particularidade das diferentes experiências históricas dos africanos em diferentes épocas e lugares (Nobles, 2009).
  1. Desafios da actuação da Psicologia em África

  • A falta de espaço para actuação do psicólogo em África;
  • Elaborar teorias Africanas e compreender os fenómenos com base na étnica ou cultura;
  • Elaborar teorias que compreendam a influência dos factores culturais, étnicos, educacionais na vida do sujeito africano;
  • A psicologia tem que compreender o Africano no seu território;
  • Aceitações do próprio psicólogo, porque ainda se têm em mente que o psicólogo apenas se limita ao tratamento das perturbações mentais, e não das outras diversas áreas do saber como saúde e bem-estar, cultura, educação, comportamento organizacional, comportamento social etc.
  • As metodologias de pesquisa precisam de ser contextualizadas a realidade africana;
  • As ferramentas de avaliação e de estudo têm que ser sensíveis á cultura estudada.
  1. Relação do Tema com a Cadeira

Observa-se que a perspectiva Africana aborda tanto os aspectos físicos da pessoa, quanto os aspectos espirituais, psíquicos e comportamentais.
Os fenómenos psicológicos em África devem ser vistos não só do ponto de vista do Ocidente, mas também do ponto de vista sociocultural africano, pois quando se interpreta os fenómenos psicológicos africanos deve se ter em conta a influência de variáveis tais como a cultura, crenças, valores, a família e o ambiente. Assim, torna-se necessário ver o individuo de forma holística, como um todo e não como a soma das suas partes.
A ideia dada não é para ignorar a psicologia ocidental, mas sim não tomá-la como a única perspectiva possível de interpretar de forma válida os fenómenos psicológicos africanos. É recomendável que se olhe para a cultura do individuo, pois, é com base nas suas crenças, nos seus valores, na sua tradição e religião que este interpreta e gere os seus sentimentos, pensamentos e emoções. Por exemplo, na cultura africana considera-se que a saúde é o bem-estar bio-psico-sócio-espiritual do indivíduo, pois o Homem africano é antes de mais um ser espiritual e é com base na noção que ele tem da sua espiritualidade que compreende a si, a vida e a morte. A tradição africana (rituais, curandeirismo e a divindade) não deve ser vista como uma prática tradicional remota, fechada e ultrapassada, mas sim como uma resposta dos nossos dias que ajuda as pessoas a enfrentar os desafios do dia-à-dia por intermédio dos seus ente-queridos.
Há uma necessidade de se abordar este tema na cadeirade Perspectivas africanas dos fenómenos psicológicos, pois na actualidade não basta só interpretar os fenómenos psicológicos baseando-se apenas nas teorias ocidentais, e sim devemos ter em conta a cultura em que o indivíduo está inserido.


  1. Conclusão

Em jeito de conclusão é pertinente referir que a psicologia como ciência surgiu no ocidente trazendo consigo suas teorias, técnicas, instrumentos e métodos de intervenção colidindo assim com a psicologia africana. Trata-se de duas perspectivas da psicologia, a ocidental e a africana.

Assim, é quase impossível intervir os aspectos psicológicos africanos sem ter em conta a sua cultura, modo de vivência, seus hábitos e costumes, ou seja, será impossível intervir na psicologia africana sem ter em conta o seu contexto sociocultural.

Com a globalização, que resultou na fusão de culturas, conhecimentos, economia, política, arte, através dos mídia, o povo africano (nós), tendem a perder cada vez mais a sua identidade, passando maioritariamente a se identificar como o outro e é o desafio do psicólogo despertar a sociedade a buscar aspectos positivos, como expansão do conhecimento científico, desenvolvimento económico, troca de experiência e intercâmbio cultural, pois esta põe em causa as manifestações culturais de alguns países da periferia, particularmente os países africanos.
Os africanos diferentemente dos europeus sempre valorizaram as relações humanas. O homem é visto pelo africano como a coisa mais importante, o homem africano é essencialmente colectivista, espiritual e religioso, não sendo necessariamente no acto de frequentar uma igreja ou um dogma religioso, eles o são no sentido de honrar o que representa uma preocupação da humanidade.

Deste modo, todas práticas de psicologia ocidental quando usadas em culturas africanas devem ser contextualizadas no sentido de adequá-las à realidade do povo africano.

11- Fonte

Sabune, A. (2011). Psicologia Perspetiva Eurocentrica e Afrocentrica. acessado a 07 de Março de 2017, disponivel em pepsic. busalud.org/scielo.php?scripf.
Anonimato(2015). Psicologia africana. acessado a 28 de Fevereiro de 2017, disponivel em http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Psicologia-Africana/72119812.html.
Nogueira, S.G.(2013), Psicologia Critica Africana e descolonização da vida prática da capoeira Angola. Brasil: São Paulo acessado a 28 de Fevereiro de 2017, disponível em http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=15996
Sandes, E (s.d). Olhos do Psicólogo. São Paulo. acessado a 03 de Março de 2017, disponivel em http://eliassantaylor85.blogspot.com/2011/03/reexaminando-psicologia-uma-perspectiva.html Postado por Elias Ricardo Sande .
Sabune, A (2011). Psicologia: Prespectiva Eurocênctrica e Africocêntrica. Acessado a 03 de Março de 2017,disponível em: http://anicetosabune.blogspot.com/2011/06/psicologia-perspectiva-eurocentrica-e.html

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