sexta-feira, 19 de maio de 2017

Psicologia e Psicopatologia em contexto Africano


  1. Introdução

O presente trabalho surge no âmbito da frequência da cadeira de Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos no curso de Licenciatura em Psicologia da Faculdade de educação da Universidade Eduardo Mondlane e tem como autores Amélia Mandamule, Ilundy Veniça, Leocádia Valoi e Precília Nguenha.
A premissa inicial que norteia o trabalho que aqui inicia é de que a Psicologia, como ciência, surge como um ramo da Filosofia Grega e vai evoluindo até ao estado em que se torna independente, válida e replicável sob os cuidados de Wundt, na Alemanha e progressivamente avança e se desenvolve em um panorama norte-americano de onde vem a maioria dos estudiosos importantes do nosso século (Davidoff, 2001). Pois, esta valida a ideia de que nem no seu surgimento e nem na sua consolidação, a Psicologia não foi sobre e nem de africanos.
Este aspecto merece destaque pois o presente trabalho tem como objectivo geral compreender a dinâmica dos Estudos de Psicologia e Psicopatologia Africana num contexto em que tal ciência tem bases ocidentais que ate pouco tempo sequer atribuíam a capacidade de pensar ao africano. Para tal, tem-se como objectivos específicos: apresentar o paradigma da Psicologia africana (seus tipos de pesquisa e funções); …
A compreensão deste tema vai permitir ao futuro psicólogo, em sua prática profissional nas organizações, comunidades ou escolas, compreender a partir de estudos locais, a natureza do comportamento normal ou anormal por si avaliado. Vai também permitir que se perceba de onde vem, onde se está e para onde se está a caminhar em termos de estudos de Psicologia e Psicopatologia no nosso continente.
O trabalho que aqui se apresenta foi elaborado tendo como orientação o Manual de Escrita Académica indicado para a nossa faculdade e sua metodologia de investigação predominante foi a revisão de literatura com principal enfoque no texto do estudioso de Psicologia Africana, Dr. Wade W. Nobles – Shaku Sheti: Retomando e Reapropriando um Foco Psicológico Afrocentrado.



  1. Revisão de Literatura

    1. Definição de Conceitos

Psicologia
Davidoff (2001) apresenta Psicologia como sendo a ciência que se concentra no comportamento e processos mentais. Comportamento - conduta, emoções, formas de comunicação, processos de desenvolvimento; processos mentais – cognição, percepção, memória, inteligência, etc.
Psicologia Africana
Segundo Nobles (2009) a Psicologia Africana é aquela que se preocupa com a libertação física e mental do africano de uma forma revolucionária, se preocupa com a essência e integridade africanas, com a criação e crítica de um corpo de ideias teóricas e práticas com o objectivo de promover a compreensão e explicação do ser e vir a ser africanos.
Psicopatologia
Segundo o Dicionário de Psicologia (2001), enquanto ramo da Psicologia, a Psicopatologia se preocupa com o conhecimento do funcionamento normal, para descrever e analisar comportamentos patológicos.
    1. O Paradigma da Psicologia Africana

Neste capítulo pretende-se dar uma visão geral das premissas que norteiam os estudos de psicologia africana, começando pelo entendimento do processo do dilema científico que antecede ao surgimento desta ciência: o descarrilamento e desafricanização.
As ciências resultam do registo metodológico dos saberes, vivências e identidades de um povo e na maioria dos povos existiu um percurso registado de desenvolvimento fortemente influenciado pela descoberta de e colonização de novos povos. Se por um lado, a colonização serviu de catalisador para imposição do saber ocidental como supremo, ao povo africano esta foi a base daquilo que Nobles (2009) denomina descarrilamento do progresso científico no continente negro visto que apaga a grande maioria do mapeamento desse desenvolvimento.
Este autor avança com a ideia de que a chegada da colonização veio alterar o senso de africanidade tão importante na concepção cultural do negro neste novo mundo. A identidade e especificidade em termos de socialização, educação, religião padrões e governos foram arrancadas ao passo que se retirava o negro do seu continente, o deixando estar apenas com sua percepção de si como emi (espírito), ori inu (dono de um destino traçado por Deus), ngulo (ser um poder) e ezaleli (ser misturado com a sua essência) e nenhum contexto a que se agarrar como identidade (Nobles, 2009). Estas identidades, percepções e vivências são cruciais no entendimento da Psicologia africana pois vão ditar os tipos de estudos a serem feitos a fim de devolver aos carris o progresso desta ciência.
Segundo Akbra citado por Nogueira (2013) existem quatro tipos gerais de pesquisas que contribuem para a construção de um modo de pensar ou paradigma em Psicologia Africana, que são: Teórica, Crítica da pesquisa de falsificação (desconstrução), Etnográfica e Heurística (construção e reconstrução).
A pesquisa teórica seria para este autor, a que permite ao africano gerar perguntas através de observações auto-reflexivas, análise introspectiva e experiência (muitas vezes colectiva) da pessoa. Ao passo que na pesquisa desconstrutiva, o investigador se ocupa em analisar falsificação sobre o ser africano e está mais virada a “provar” as incoerências e falácias metodológicas da pesquisa tradicional.
Por sua vez, a Pesquisa Etnográfica é das únicas das formas de Psicologia Africana com empíricas e autênticas que busca observar o povo africano e afrodescendente, buscando identificar critérios de uma investigação afrocentrada. Por fim, a Pesquisa Heurística prossegue a etnográfica e busca estuda estilo culturais adaptativos e seus benefícios para o desenvolvimento dos povos de origem e/ou descendência africana (Akbar apud Nogueira, 2013).
As pesquisas actuais, se afastam cada vez mais da desconstrução (provavelmente devido a crença de que este processo já esteja saturado no meio cientifico) e se volta mais a abordagem etnográfica. Em sua tese, Nogueira (2013) aborda por exemplo estudos feitos no Brasil sobre a prática da capoeira e sua influência na descolonização e humanização dos povos africanos, esta se vira mais ao impacto recíproco entre a cultura e a construção psicológica do indivíduo.
Um dos elementos essenciais de uma linhagem de estudos como esta é a sua aplicabilidade e possibilidade de replicação, e para tal se faz necessário que a construção permanente da Psicologia Africana esteja orientada para: resolução de problemas psicológicos, social e cultural em povos africanos, as qualidades metafísicas da experiência humana e para a edificação de uma ciência voltada a identificação e réplica de qualidades adaptativas dos povos africanos (Nogueira, 2013).
O posicionamento de Nogueira (2013) acerca da importância do entendimento das qualidades metafísicas do africano é inquestionável na medida em que mesmo com a colonização, o povo africano ainda se ancora nas percepções espirituais sobre si. Esse entendimento funciona muitas vezes como fortaleza do africano como pode-se compreender a seguir:
Essa essência ou Força espiritual o tornava (ao africano) alguém humano e proporcionava a cada pessoa uma relação duradoura com o universo total perceptível e ponderável. O mapa mental de ser africano serviu de filtro cultural da resistência a escravidão e ao colonialismo.” (Nobles, 2009).
Com isto, estão dadas as bases fundamentais do paradigma da Psicologia Africana ao abordar neste primeiro momento quem são os africanos estudados aqueles cujo desenvolvimento científico e ideológico, bem como seu registo, entrara em descarrilamento - bem como os tipos de pesquisa ou estudos feitos sobre normalidade e anormalidade em povos africanos, bem como os focos a ser tomados a fim de fortificar esta ciência. A seguir, se irá afunilar a compreensão dos estudos de Psicologia e Psicopatologia africana.

    1. Estudos sobre Psicologia e Psicopatologia Africana

A psicologia Africana surge no âmbito da tentativa de compreensão do africano, num momento que se observa que este foi “desafricanizado” pela opressão e conteúdos europeus. Os estudos recentes fazem um esforço de regressar as origens africanas, através da compreensão do cerne africano.
As discussões revelam as limitações das técnicas e métodos psicológicas ocidentais, acarretando cada vez a necessidade de compreensão dos significados psicológicos e funções associativas ou emergência de teorias essenciais que colocam em primazia os processos psicológicos africanos.
A grande polémica retrata uma psicologia ocidentalizada quando fundamentalmente esta deveria se preocupar com a compreensão individual, a qual se revela ser incapaz de apreender a experiencia dos povos africanos. Nobles (2009)
A psicologia ocidental na sua criação esteve associada a regimes opressores de povos africanos, esta por essa razão com as suas práticas não conseguem fornecer explicações lógicas para eventos tidos como de povos africanos.
Estudos contemporâneos em Psicologia africana levantam-se em oposição a todos estes conceitos e metodologias, afirmando o seu espaço como uma psicologia que se preocupa com o desenvolvimento de uma perspectiva afrocêntrica. Esta psicologia faz uma busca sob as raízes profundas africanas.
Os primeiros conceitos de psicologia associados ao ser africano foram observados no vale do Nilo através de uma ilustração da consciência, os quais deram origem a ideia de iluminação e discernimento do espírito humano. Esta psicologia africana, percebia a interdependência existente entre os processos mentais, esta génese, foi chamada de psicostasia.
Desta forma, a Psicologia Negra, debruça-se dentro duma perspectiva de estudo e pesquisa do “iluminar” do espírito e essência humana, através da compreensão plena da pessoa africana. Esta compreensão deve ser feita com conteúdo meramente africano, longe do essencialismo europeu, dentro do terreno africano (significados e aplicações), em que o objectivo primordial é de se fazer uma busca de informações que reflictam uma explicação e iluminação do espírito, da força e do poder do que significa ser africano. (Nobles, 2009)
Sakhu Sheti
Segundo Nobles (2009), é um ramo da psicologia negra que nos permite compreender o significado e a experiência de ser africano, mas também conhecer a utilidade e a realização da fé, da alegria e da beleza em ser, pertencer e tornar-se africano.
E sheti quer dizer entrar profundamente num assunto; estudar a fundo; pesquisar nos livros mágicos e Sakhu, ou iluminação do espírito.
A psicologia dos africanos deriva de uma singular experiência histórica e é por ela determinada. o imperativo humano natural e instintivo dessa psicologia é adquirir o impulso revolucionário para atingir a libertação física, mental e espiritual.
Os parâmetros do pensamento, da teoria e da terapia na psicologia negra exigem que se obtenha uma compreensão plena da pessoa africana mediante a pesquisa, o estudo e o domínio do processo de "iluminar" o espírito ou a essência humanos (Nobles, 2009). Para os africanos, o entendimento humano exige o exame e a explicação do significado, bem como o funcionamento da natureza (essência) do ser humana a África e as coisas africanas devem ser examinadas e apreendidas em terreno africano (ou seja, com significados e aplicações africanos Assim, proponho que qualquer corpo de informações e práticas destinado a compreender os africanos representem e reflictam uma explicação e iluminação do espírito, da força e do poder do que significa ser africano, e por elas deve ser orientado.
Para compreender o sakhu, ou iluminação do espírito, afro-brasileiro, deve-se discutir a ideia africana do que significa ser um ser humano ou uma pessoa o sakhu shetí exigiria que se interrogasse a linguagem e a lógica dos povos africanos tradicionais para apreender de forma profunda e nítida o funcionamento dos povos africanos contemporâneos. Nossos ancestrais foram trazidos para o Novo Mundo destituídos de liberdade, ou seja, em grilhões, mas não chegaram destituídos de pensamento ou crenças sobre quem eles eram. Nossos ancestrais vieram com uma lógica e uma linguagem de reflexão sobre o que significava ser humano sobre quem eles eram, a quem pertenciam e por que existiam.
O corpo ou ara é formado pela divindade. É por meio do ara que a pessoa interage com o meio ambiente; é essa a parte da pessoa que se pode tocar e sentir o ara pode sofrer danos e se desintegra após a morte. Entretanto, o componente essencial da pessoa é o espírito, a "força espiritual" ou espiritualidade (emí). O emí dá vida à pessoa é seu elemento divino e a vincula directamente a Deus. Depois que a pessoa morre, o emí retorna ao Elemi (o dono do espírito, Deus) e continua a viver.
Ser humano, na visão banto-congo, é ser uma "pessoa" que é um sol vivo, possuindo um espírito (essência) cognoscente e cognoscível por meio do qual se tem uma relação duradoura com o universo total, perceptível e ponderável. Para os banto-congo, o nascimento de uma criança é percebido como a ascensão de um "sol-vivo" ao mundo superior (Fu-Kiau, 1991 apud Nobles, 2009). Pessoa é ao mesmo tempo o recipiente e o instrumento da energia e dos relacionamentos divinos. É a essência espiritual da pessoa que a torna humana.
Como Ngolo (energia, espírito ou poder), a pessoa é um fenómeno de "veneração perpétua. O sistema o bacongo sustenta que ser humano é ser um espírito em contacto constante com os poderes espirituais que habitam o reino invisível; ser uma força espiritual intrincadamente conectada ou incrustada numa estrutura diferenciadora de energia em eterna expansão. Essa energia, cuja totalidade constitui o Ser Supremo exige que os seres humanos, como espíritos, sejam capazes de conhecer a si mesmos (intra), a outros espíritos humanos (inter) e por fim ao Divino (supra).
Terrorismo Psicológico, Doença Mental e Genocídio Cultural
O desejo de “proximidade da brancura” é uma doença mental debilitante para os africanos. O “embranquecimento” deve ser classificado como patogénico, e os africanos, independentemente da sua mistura biológica, quando apresentam esse desejo incontrolável de ser branco, ou querem se aproximar da brancura, ou sofrem de ilusão de que não são negros devem ser clinicamente diagnosticados como sofrendo do trauma causado pela experiência prolongada e constante do terrorismo psicológico.
Akbar (1981) apud Nobles (2009), identifica quatro distorções ou desordens da personalidade relacionadas com uma sociedade tipificada pela opressão, pelo racismo e pela supremacia branca:
  • Desordem do ego alienado - em que o indivíduo comporta-se de modo contrário à sua própria natureza e sobrevivência. Aprende a agir em contradição com seu bem-estar e em consequência se aliena em relação a si mesmo;
  • Desordem do ser contra si mesmo - em que o individuo que expressa hostilidade aberta ou disfarçada em relação ao próprio grupo, e portanto a si mesmo;
  • Desordem “auto-destrutiva”- as pessoas afectadas se envolvem em fugas destrutivas da realidade, como drogas, crimes românticos, fantasias de aceitação, etc.
  • Disfunções fisiológicas, neurológicas e bioquímicas provocadas por desordens da personalidade que se deve à desigualdades raciais de longa data no entendimento médico e na educação, habitação, etc.
    1. Estudos sobre Psicologia e Psicoterapia em Moçambique

Nesta secção, serão apresentados alguns estudos sobre Psicologia e Psicoterapia em Moçambique, realizados por equipas multidisciplinares e extraídos da 1ª e 2ª edições da Revista Psique.
    1. Histeria colectiva: o caso da Escola Secundária Quisse Mavota em Maputo

      1. Discussões sobre Histeria

Segundo Goveia, Muthemba, Langa, Mandlate, Morais, et all, (2011), a palavra histeria deriva do termo “histerus” (útero, em grego). Supunha-se na Grécia antiga, que os sintomas histéricos fossem causados por movimentos do útero; na Idade Média, as histéricas eram vistas com bruxas e acabavam muitas vezes, nas fogueiras da inquisição; e já na antiguidade clássica encontram-se as primeiras descrições clínicas de histeria.
Ainda segundo os autores acima, Charcot foi o primeiro autor a sistematizar o estudo da histeria, descrevendo minuciosamente seus sintomas e separando-a de outras neuroses e da simulação. Para Charcot nos grandes ataques de histeria podem-se observar palpitações, perturbações visuais, os quais culminam com o estado corpuscular histérico e queda no chão com suspensão da respiração, rigidez muscular e convulsões progressivas.
A histeria pode se observar em povos mais emotivos como por exemplo africanos e muitas das vezes o chamado “desmaio” poderá esconder uma crise de histeria e neste caso o ritmo cardíaco não se modifica (Goveia, et all, 2011).
Para Porot e Manuel, histerias são estados permanentes ou passageiros em que as pessoas aparentam sintomas de doença física, somáticas e estados psicopáticos (Gameiro, 1989, citado por Goveia, 2011).
      1. Histeria Colectiva e Psicopatologia

A histeria colectiva é um fenómeno que ocorre por sugestão. Basta uma pessoa acreditar que está possuída por um espírito que todo o grupo começa a sentir os mesmos sintomas (Barros, 2009, citado por Goveia, et all, 2011). Por outro lado, a histeria colectiva é considerada como, uma constelação de sintomas que sugerem uma doença orgânica, sem origem identificável que ocorre entre duas ou mais pessoas que compartilham crenças relacionadas a esses sintomas (Boss, 1997, citado por Goveia, et all, 2011).
No continente Africano, a partir do século XX, os motivos começam a envolver para além das questões sócio-económico-cultural e possessão por espirítos e ancestrais mortos, medos imaginários e fantasias de invasão de extra-terrestres ou envenenamento onde estão presentes imensas angústias de intrusão e de aniquilamento (Goveia, et all, 2011).
Ajuria e Marcelli (1991), citados por Goveia, et all (2011), a partir de 14-15 anos, podem-se encontrar sintomatologias histéricas próximas daquelas observadas no adulto. Várias observações clássicas consideram a existência de “epidemias” de manifestações histéricas em escolas e em internados.
Neste sentido, os autores realizaram um estudo sobre Histeria Colectiva na Escola Secundária Quisse Mavota e anexa, cuja amostra foi constituída po 155 raparigas sendo 57 das que desmaiaram na escola (G1) e as restantes não tiveram desmaios na escola anexa (G2).
      1. Resultados da Pesquisa

Para a compreensão do fenómeno, destacaram-se das demais as seguintes dimensões:
  • Pessoais: em relação aos relacionamentos afectivos as alunas do G1, na sua maioria referem ainda não ter iniciado uma vida afectiva. Em relação aos desmaios anteriores algumas no G2 tem antecedentes de desmaios mas foram noutros contextos e não escolares, enquanto que as do G2 o factor stressante da escola propiciou as crises. As meninas dos ambos grupos atribuem isso à existência de espíritos.
  • Funcionamento psicológico: o G1 mostra tendências para timidez e introversão e oposição ao G2. Em relação à Neutricidade as alunas do G1 apresentam maiores níveis de instabilidade emocional reagindo a situações de tensão de forma exagerada em comparação com o G2.
  • Auto - imagem e representação de si: as respostas dadas nos dois grupos realçam procedimentos típicos do funcionamento adolescente, com movimentos oscilantes entre a busca de uma identidade, a procura de uma relação afectiva e íntima, a necessidade de suporte e o medo do desconhecido.
  • Níveis de ansiedade: o G1 apresenta maiores níveis de ansiedade em comparação com o G2. No que se refere à percepção do nível de severidade dos sintomas psicológicos, as alunas do G1 tendem a apresentá-los com maior intensidade e frequência comparando com o G2.
      1. Discussão dos Autores

O comportamento manifestado pelas alunas da escola revela um alto grau de perturbação e sobretudo de sofrimento. Foram referidos pelas alunas do G1 sintomas como falta de a, boca seca, náuseas, tontura, muito medo e despersonalização, que precediam a queda quando esta acontecesse.
As alunas do G1 tendem a apresentar sintomas de ansiedade com graus mais alto de intensidade e frequência. De acordo com as avaliações feitas por Beck, os níveis de ansiedade são mais severos do que a maioria das pessoas. O que pode significar tendência e susceptibilidade para maior instabilidade e tensão emocional que contribuem grandemente para as crises registadas.
Fica claro que havia um clima de tensão pré-existente nas instalações modernas da escola, onde, contudo, antigas crenças de ordem religiosa e tradicional circulavam. A escola serviu então, como palco privilegiado para a eclosão de um episódio de histeria colectiva que reproduziu através de sintomas colectivos patológicos, conflitos latentes na sociedade moçambicana, tanto na dimensão individual como na dimensão colectiva. O facto de que as próprias adolescentes encontravam-se veemente imbuídas da crença de que se tratava de uma questão de ordem espiritual contribuiu e muito para que se alimentasse a angústia e o caos. As crenças culturais, fazendo parte da tradição, exercem um grande poder sobre o psiquismo emergente das adolescentes.
No caso das alunas da Escola Secundária Quisse Mavota, o contágio psicológico resultou de medos e ansiedades que se sucederam à disseminação da informação relacionada com o eminente perigo de serem possuídas pelo espírito do (da) Vovó Quisse, tendo algumas alunas tomado medidas protectoras baseadas nas suas crenças levando para a escola terços e amuletos.
  1. Importância do estudo do Tema

Perspectivas Africanas sobre os Fenómenos Psicológicos é uma disciplina que estuda a forma como os africanos concebem e interpretam os fenómenos que ocorrem na mente e que por conta dessa interpretação desencadeiam um comportamento.
É importante falar dos estudos sobre Psicologia e Psicopatologia nos países africanos, uma vez que estando em África o psicólogo precisa entender a forma como os africanos, de acordo com a sua cultura, interpretam os fenómenos psicológicos, e como os africanos avaliam as doenças mentais, isso leva a percepção de que o indivíduo não pode ser estudado e compreendido isoladamente do seu contexto histórico, sociocultural e geográfico. Para se compreender o africano é preciso perceber a sua espiritualidade uma vez que em África a interpretação da saúde e doença não se separa da tradição e da vontade dos mortos, este tema nos ajuda a perceber que apesar de todos serem seres humanos, o Africano tem as suas práticas e costumes que usa na interpretação dos fenómenos psicológicos e na sua actuação, o psicólogo deve ter em conta a essência do africano e o seu contexto.
  1. Conclusão

Feito o trabalho conclui-se que a África é o continente com mais civilizações antigas, repleta da enorme diversidade que a caracteriza, tudo isto se manifesta nas tradições que dizem respeito a essência ou natureza do homem. O africano é dotado de uma personalidade típica que o diferencia dos outros povos e, os valores culturais dos africanos são preservados e transmitidos de geração em geração.
A Psicologia africana procura compreender o comportamento e os processos mentais dos africanos tomando em consideração os aspectos culturais. As doenças mentais e outras patologias no contexto Africano tendem a ter uma explicação tradicional. Tomando como exemplo concreto, em Moçambique a esquizofrenia é concebida como sendo uma patologia oriunda do não acompanhamento tradicional nos primeiros anos da vida, algumas patologias são concebidas como fruto de uma maldição, feitiçaria ou mesmo da prática de swakuyila.
Os africanos que foram vendidos ou raptados para diversos cantos do mundo durante a guerra e que tinham de dar sentido ou significado à realidade de novos lugar, condição e povo. Apesar de não estarem na sua terra, o único meio de que dispunham para navegar e dar sentido à nova condição de servidão e barbarismo era o mapa mental de ser africanos, isto é, apesar de não estarem em África não perderam por completo a sua africanidade, razão pela qual encontramos hoje em dia os africanos vendidos como escravos no Brasil que ainda vivem na base de algumas praticas típicas de África.

  1. Referências Bibliográficas

Davidoff, L, L. (2001). Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books
Doron, R e Parot, F (2001). Dicionário de Psicologia. Lisboa: Climepsi Editores
Gouveia,L; Langa, A; Mandlate,F; Matavel, J; Morais, A; Muthemba, R; Nhabinde, A; Santos, P & Wate J. Histeria Colectiva: caso da escola secundária Quisse Mavota em Maputo em Revista Psique – Centro de Psicologia Aplicada e Exames Psicotécnicos
Nobles, W. (2009). Shaku Sheti: Retomando e Reapropriando um Foco Psicológico Afrocentrado. São Paulo: Selo Negro
Nogueira, S. (2013) Psicologia crítica africana e descolonização da vida na prática da capoeira Angola. Recuperado em http://psicologiaeafricanidades.files.wordpress.com/2012/09/nobles-portugues.pdf aos 10 de Março de 2017

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