O
presente trabalho surge no âmbito da frequência da cadeira de
Perspectivas Africanas dos Fenómenos Psicológicos no curso de
Licenciatura em Psicologia da Faculdade de educação da Universidade
Eduardo Mondlane e tem como autores Amélia Mandamule, Ilundy Veniça,
Leocádia Valoi e Precília Nguenha.
A
premissa inicial que norteia o trabalho que aqui inicia é de que a
Psicologia, como ciência, surge como um ramo da Filosofia Grega e
vai evoluindo até ao estado em que se torna independente, válida e
replicável sob os cuidados de Wundt, na Alemanha e progressivamente
avança e se desenvolve em um panorama norte-americano de onde vem a
maioria dos estudiosos importantes do nosso século (Davidoff, 2001).
Pois, esta valida a ideia de que nem no seu surgimento e nem na sua
consolidação, a Psicologia não foi sobre e nem de africanos.
Este
aspecto merece destaque pois o presente trabalho tem como objectivo
geral compreender a dinâmica dos Estudos de Psicologia e
Psicopatologia Africana num contexto em que tal ciência tem bases
ocidentais que ate pouco tempo sequer atribuíam a capacidade de
pensar ao africano. Para tal, tem-se como objectivos específicos:
apresentar o paradigma da Psicologia africana (seus tipos de pesquisa
e funções); …
A
compreensão deste tema vai permitir ao futuro psicólogo, em sua
prática profissional nas organizações, comunidades ou escolas,
compreender a partir de estudos locais, a natureza do comportamento
normal ou anormal por si avaliado. Vai também permitir que se
perceba de onde vem, onde se está e para onde se está a caminhar em
termos de estudos de Psicologia e Psicopatologia no nosso continente.
O
trabalho que aqui se apresenta foi elaborado tendo como orientação
o Manual de Escrita Académica indicado para a nossa faculdade e sua
metodologia de investigação predominante foi a revisão de
literatura com principal enfoque no texto do estudioso de Psicologia
Africana, Dr. Wade W. Nobles – Shaku Sheti: Retomando e
Reapropriando um Foco Psicológico Afrocentrado.
Psicologia
Davidoff
(2001) apresenta Psicologia como sendo a ciência que se concentra no
comportamento e processos mentais. Comportamento - conduta, emoções,
formas de comunicação, processos de desenvolvimento; processos
mentais – cognição, percepção, memória, inteligência, etc.
Psicologia
Africana
Segundo
Nobles (2009) a Psicologia Africana é aquela que se preocupa com a
libertação física e mental do africano de uma forma
revolucionária, se preocupa com a essência e integridade africanas,
com a criação e crítica de um corpo de ideias teóricas e práticas
com o objectivo de promover a compreensão e explicação do ser e
vir a ser africanos.
Psicopatologia
Segundo
o Dicionário de Psicologia (2001), enquanto ramo da Psicologia, a
Psicopatologia se preocupa com o conhecimento do funcionamento
normal, para descrever e analisar comportamentos patológicos.
Neste
capítulo pretende-se dar uma visão geral das premissas que norteiam
os estudos de psicologia africana, começando pelo entendimento do
processo do dilema científico que antecede ao surgimento desta
ciência: o descarrilamento e desafricanização.
As
ciências resultam do registo metodológico dos saberes, vivências e
identidades de um povo e na maioria dos povos existiu um percurso
registado de desenvolvimento fortemente influenciado pela descoberta
de e colonização de novos povos. Se por um lado, a colonização
serviu de catalisador para imposição do saber ocidental como
supremo, ao povo africano esta foi a base daquilo que Nobles (2009)
denomina descarrilamento do progresso científico no continente negro
visto que apaga a grande maioria do mapeamento desse desenvolvimento.
Este
autor avança com a ideia de que a chegada da colonização veio
alterar o senso de africanidade tão importante na concepção
cultural do negro neste novo mundo. A identidade e especificidade em
termos de socialização, educação, religião padrões e governos
foram arrancadas ao passo que se retirava o negro do seu continente,
o deixando estar apenas com sua percepção de si como emi
(espírito), ori
inu
(dono de um destino traçado por Deus), ngulo
(ser um poder) e ezaleli
(ser misturado com a sua essência) e nenhum contexto a que se
agarrar como identidade (Nobles, 2009). Estas identidades, percepções
e vivências são cruciais no entendimento da Psicologia africana
pois vão ditar os tipos de estudos a serem feitos a fim de devolver
aos carris o progresso desta ciência.
Segundo
Akbra citado por Nogueira (2013) existem quatro tipos gerais de
pesquisas que contribuem para a construção de um modo de pensar ou
paradigma em Psicologia Africana, que são: Teórica, Crítica da
pesquisa de falsificação (desconstrução), Etnográfica e
Heurística (construção e reconstrução).
A
pesquisa teórica seria para este autor, a que permite ao africano
gerar perguntas através de observações auto-reflexivas, análise
introspectiva e experiência (muitas vezes colectiva) da pessoa. Ao
passo que na pesquisa desconstrutiva, o investigador se ocupa em
analisar falsificação sobre o ser africano e está mais virada a
“provar” as incoerências e falácias metodológicas da pesquisa
tradicional.
Por
sua vez, a Pesquisa Etnográfica é das únicas das formas de
Psicologia Africana com empíricas e autênticas que busca observar o
povo africano e afrodescendente, buscando identificar critérios de
uma investigação afrocentrada. Por fim, a Pesquisa Heurística
prossegue a etnográfica e busca estuda estilo culturais adaptativos
e seus benefícios para o desenvolvimento dos povos de origem e/ou
descendência africana (Akbar apud Nogueira, 2013).
As
pesquisas actuais, se afastam cada vez mais da desconstrução
(provavelmente devido a crença de que este processo já esteja
saturado no meio cientifico) e se volta mais a abordagem etnográfica.
Em sua tese, Nogueira (2013) aborda por exemplo estudos feitos no
Brasil sobre a prática da capoeira e sua influência na
descolonização e humanização dos povos africanos, esta se vira
mais ao impacto recíproco entre a cultura e a construção
psicológica do indivíduo.
Um
dos elementos essenciais de uma linhagem de estudos como esta é a
sua aplicabilidade e possibilidade de replicação, e para tal se faz
necessário que a construção permanente da Psicologia Africana
esteja orientada para: resolução de problemas psicológicos, social
e cultural em povos africanos, as qualidades metafísicas da
experiência humana e para a edificação de uma ciência voltada a
identificação e réplica de qualidades adaptativas dos povos
africanos (Nogueira, 2013).
O
posicionamento de Nogueira (2013) acerca da importância do
entendimento das qualidades metafísicas do africano é
inquestionável na medida em que mesmo com a colonização, o povo
africano ainda se ancora nas percepções espirituais sobre si. Esse
entendimento funciona muitas vezes como fortaleza do africano como
pode-se compreender a seguir:
“Essa
essência ou Força espiritual o tornava (ao africano) alguém humano
e proporcionava a cada pessoa uma relação duradoura com o universo
total perceptível e ponderável. O mapa mental de ser africano
serviu de filtro cultural da resistência a escravidão e ao
colonialismo.” (Nobles, 2009).
Com
isto, estão dadas as bases fundamentais do paradigma da Psicologia
Africana ao abordar neste primeiro momento quem são os africanos
estudados aqueles cujo desenvolvimento científico e ideológico, bem
como seu registo, entrara em descarrilamento - bem como os tipos de
pesquisa ou estudos feitos sobre normalidade e anormalidade em povos
africanos, bem como os focos a ser tomados a fim de fortificar esta
ciência. A seguir, se irá afunilar a compreensão dos estudos de
Psicologia e Psicopatologia africana.
A
psicologia Africana surge no âmbito da tentativa de compreensão do
africano, num momento que se observa que este foi “desafricanizado”
pela opressão e conteúdos europeus. Os estudos recentes fazem um
esforço de regressar as origens africanas, através da compreensão
do cerne africano.
As
discussões revelam as limitações das técnicas e métodos
psicológicas ocidentais, acarretando cada vez a necessidade de
compreensão dos significados psicológicos e funções associativas
ou emergência de teorias essenciais que colocam em primazia os
processos psicológicos africanos.
A
grande polémica retrata uma psicologia ocidentalizada quando
fundamentalmente esta deveria se preocupar com a compreensão
individual, a qual se revela ser incapaz de apreender a experiencia
dos povos africanos. Nobles (2009)
A
psicologia ocidental na sua criação esteve associada a regimes
opressores de povos africanos, esta por essa razão com as suas
práticas não conseguem fornecer explicações lógicas para eventos
tidos como de povos africanos.
Estudos
contemporâneos em Psicologia africana levantam-se em oposição a
todos estes conceitos e metodologias, afirmando o seu espaço como
uma psicologia que se preocupa com o desenvolvimento de uma
perspectiva afrocêntrica. Esta psicologia faz uma busca sob as
raízes profundas africanas.
Os
primeiros conceitos de psicologia associados ao ser africano foram
observados no vale do Nilo através de uma ilustração da
consciência, os quais deram origem a ideia de iluminação e
discernimento do espírito humano. Esta psicologia africana, percebia
a interdependência existente entre os processos mentais, esta
génese, foi chamada de psicostasia.
Desta
forma, a Psicologia Negra, debruça-se dentro duma perspectiva de
estudo e pesquisa do “iluminar” do espírito e essência humana,
através da compreensão plena da pessoa africana. Esta compreensão
deve ser feita com conteúdo meramente africano, longe do
essencialismo europeu, dentro do terreno africano (significados e
aplicações), em que o objectivo primordial é de se fazer uma busca
de informações que reflictam uma explicação e iluminação do
espírito, da força e do poder do que significa ser africano.
(Nobles, 2009)
Sakhu
Sheti
Segundo
Nobles (2009), é um ramo da psicologia negra que nos permite
compreender o significado e a experiência de ser africano, mas
também conhecer a utilidade e a realização da fé, da alegria e da
beleza em ser, pertencer e tornar-se africano.
E
sheti
quer dizer entrar profundamente num assunto; estudar a fundo;
pesquisar nos livros mágicos e Sakhu, ou iluminação do espírito.
A
psicologia dos africanos deriva de uma singular experiência
histórica e é por ela determinada. o imperativo humano natural e
instintivo dessa psicologia é adquirir o impulso revolucionário
para atingir a libertação física, mental e espiritual.
Os
parâmetros do pensamento, da teoria e da terapia na psicologia negra
exigem que se obtenha uma compreensão plena da pessoa africana
mediante a pesquisa, o estudo e o domínio do processo de "iluminar"
o espírito ou a essência humanos (Nobles, 2009). Para os africanos,
o entendimento humano exige o exame e a explicação do significado,
bem como o funcionamento da natureza (essência) do ser humana a
África e as coisas africanas devem ser examinadas e apreendidas em
terreno africano (ou seja, com significados e aplicações africanos
Assim, proponho que qualquer corpo de informações e práticas
destinado a compreender os africanos representem e reflictam uma
explicação e iluminação do espírito, da força e do poder do que
significa ser africano, e por elas deve ser orientado.
Para
compreender o sakhu, ou iluminação do espírito, afro-brasileiro,
deve-se discutir a ideia africana do que significa ser um ser humano
ou uma pessoa o sakhu
shetí
exigiria que se interrogasse a linguagem e a lógica dos povos
africanos tradicionais para apreender de forma profunda e nítida o
funcionamento dos povos africanos contemporâneos. Nossos ancestrais
foram trazidos para o Novo Mundo destituídos de liberdade, ou seja,
em grilhões, mas não chegaram destituídos de pensamento ou crenças
sobre quem eles eram. Nossos ancestrais vieram com uma lógica e uma
linguagem de reflexão sobre o que significava ser humano sobre quem
eles eram, a quem pertenciam e por que existiam.
O
corpo ou ara
é formado pela divindade. É por meio do ara
que
a pessoa interage com o meio ambiente; é essa a parte da pessoa que
se pode tocar e sentir o ara
pode sofrer danos e se desintegra após a morte. Entretanto, o
componente essencial da pessoa é o espírito, a "força
espiritual" ou espiritualidade (emí). O emí
dá vida à pessoa é seu elemento divino e a vincula directamente a
Deus. Depois que a pessoa morre, o emí retorna ao Elemi (o dono do
espírito, Deus) e continua a viver.
Ser
humano, na visão banto-congo, é ser uma "pessoa" que é
um sol vivo, possuindo um espírito (essência) cognoscente e
cognoscível por meio do qual se tem uma relação duradoura com o
universo total, perceptível e ponderável. Para os banto-congo, o
nascimento de uma criança é percebido como a ascensão de um
"sol-vivo" ao mundo superior (Fu-Kiau, 1991 apud Nobles,
2009). Pessoa é ao mesmo tempo o recipiente e o instrumento da
energia e dos relacionamentos divinos. É a essência espiritual da
pessoa que a torna humana.
Como
Ngolo (energia, espírito ou poder), a pessoa é um fenómeno de
"veneração perpétua. O sistema o bacongo sustenta que ser
humano é ser um espírito em contacto constante com os poderes
espirituais que habitam o reino invisível; ser uma força espiritual
intrincadamente conectada ou incrustada numa estrutura diferenciadora
de energia em eterna expansão. Essa energia, cuja totalidade
constitui o Ser Supremo exige que os seres humanos, como espíritos,
sejam capazes de conhecer a si mesmos (intra), a outros espíritos
humanos (inter) e por fim ao Divino (supra).
Terrorismo
Psicológico, Doença Mental e Genocídio Cultural
O
desejo de “proximidade da brancura” é uma doença mental
debilitante para os africanos. O “embranquecimento” deve ser
classificado como patogénico, e os africanos, independentemente da
sua mistura biológica, quando apresentam esse desejo incontrolável
de ser branco, ou querem se aproximar da brancura, ou sofrem de
ilusão de que não são negros devem ser clinicamente diagnosticados
como sofrendo do trauma causado pela experiência prolongada e
constante do terrorismo psicológico.
Akbar
(1981) apud Nobles (2009), identifica quatro distorções ou
desordens da personalidade relacionadas com uma sociedade tipificada
pela opressão, pelo racismo e pela supremacia branca:
- Desordem do ego alienado - em que o indivíduo comporta-se de modo contrário à sua própria natureza e sobrevivência. Aprende a agir em contradição com seu bem-estar e em consequência se aliena em relação a si mesmo;
- Desordem do ser contra si mesmo - em que o individuo que expressa hostilidade aberta ou disfarçada em relação ao próprio grupo, e portanto a si mesmo;
- Desordem “auto-destrutiva”- as pessoas afectadas se envolvem em fugas destrutivas da realidade, como drogas, crimes românticos, fantasias de aceitação, etc.
- Disfunções fisiológicas, neurológicas e bioquímicas provocadas por desordens da personalidade que se deve à desigualdades raciais de longa data no entendimento médico e na educação, habitação, etc.
Nesta
secção, serão apresentados alguns estudos sobre Psicologia e
Psicoterapia em Moçambique, realizados por equipas
multidisciplinares e extraídos da 1ª e 2ª edições da Revista
Psique.
Segundo
Goveia, Muthemba, Langa, Mandlate, Morais, et all, (2011), a palavra
histeria deriva do termo “histerus” (útero, em grego).
Supunha-se na Grécia antiga, que os sintomas histéricos fossem
causados por movimentos do útero; na Idade Média, as histéricas
eram vistas com bruxas e acabavam muitas vezes, nas fogueiras da
inquisição; e já na antiguidade clássica encontram-se as
primeiras descrições clínicas de histeria.
Ainda
segundo os autores acima, Charcot foi o primeiro autor a sistematizar
o estudo da histeria, descrevendo minuciosamente seus sintomas e
separando-a de outras neuroses e da simulação. Para Charcot nos
grandes ataques de histeria podem-se observar palpitações,
perturbações visuais, os quais culminam com o estado corpuscular
histérico e queda no chão com suspensão da respiração, rigidez
muscular e convulsões progressivas.
A
histeria pode se observar em povos mais emotivos como por exemplo
africanos e muitas das vezes o chamado “desmaio” poderá esconder
uma crise de histeria e neste caso o ritmo cardíaco não se modifica
(Goveia, et all, 2011).
Para
Porot e Manuel, histerias são estados permanentes ou passageiros em
que as pessoas aparentam sintomas de doença física, somáticas e
estados psicopáticos (Gameiro, 1989, citado por Goveia, 2011).
A
histeria colectiva é um fenómeno que ocorre por sugestão. Basta
uma pessoa acreditar que está possuída por um espírito que todo o
grupo começa a sentir os mesmos sintomas (Barros, 2009, citado por
Goveia, et all, 2011). Por outro lado, a histeria colectiva é
considerada como, uma constelação de sintomas que sugerem uma
doença orgânica, sem origem identificável que ocorre entre duas ou
mais pessoas que compartilham crenças relacionadas a esses sintomas
(Boss, 1997, citado por Goveia, et all, 2011).
No
continente Africano, a partir do século XX, os motivos começam a
envolver para além das questões sócio-económico-cultural e
possessão por espirítos e ancestrais mortos, medos imaginários e
fantasias de invasão de extra-terrestres ou envenenamento onde estão
presentes imensas angústias de intrusão e de aniquilamento (Goveia,
et all, 2011).
Ajuria
e Marcelli (1991), citados por Goveia, et all (2011), a partir de
14-15 anos, podem-se encontrar sintomatologias histéricas próximas
daquelas observadas no adulto. Várias observações clássicas
consideram a existência de “epidemias” de manifestações
histéricas em escolas e em internados.
Neste
sentido, os autores realizaram um estudo sobre Histeria Colectiva na
Escola Secundária Quisse Mavota e anexa, cuja amostra foi
constituída po 155 raparigas sendo 57 das que desmaiaram na escola
(G1) e as restantes não tiveram desmaios na escola anexa (G2).
Para
a compreensão do fenómeno, destacaram-se das demais as seguintes
dimensões:
- Pessoais: em relação aos relacionamentos afectivos as alunas do G1, na sua maioria referem ainda não ter iniciado uma vida afectiva. Em relação aos desmaios anteriores algumas no G2 tem antecedentes de desmaios mas foram noutros contextos e não escolares, enquanto que as do G2 o factor stressante da escola propiciou as crises. As meninas dos ambos grupos atribuem isso à existência de espíritos.
- Funcionamento psicológico: o G1 mostra tendências para timidez e introversão e oposição ao G2. Em relação à Neutricidade as alunas do G1 apresentam maiores níveis de instabilidade emocional reagindo a situações de tensão de forma exagerada em comparação com o G2.
- Auto - imagem e representação de si: as respostas dadas nos dois grupos realçam procedimentos típicos do funcionamento adolescente, com movimentos oscilantes entre a busca de uma identidade, a procura de uma relação afectiva e íntima, a necessidade de suporte e o medo do desconhecido.
- Níveis de ansiedade: o G1 apresenta maiores níveis de ansiedade em comparação com o G2. No que se refere à percepção do nível de severidade dos sintomas psicológicos, as alunas do G1 tendem a apresentá-los com maior intensidade e frequência comparando com o G2.
O
comportamento manifestado pelas alunas da escola revela um alto grau
de perturbação e sobretudo de sofrimento. Foram referidos pelas
alunas do G1 sintomas como falta de a, boca seca, náuseas, tontura,
muito medo e despersonalização, que precediam a queda quando esta
acontecesse.
As
alunas do G1 tendem a apresentar sintomas de ansiedade com graus mais
alto de intensidade e frequência. De acordo com as avaliações
feitas por Beck, os níveis de ansiedade são mais severos do que a
maioria das pessoas. O que pode significar tendência e
susceptibilidade para maior instabilidade e tensão emocional que
contribuem grandemente para as crises registadas.
Fica
claro que havia um clima de tensão pré-existente nas instalações
modernas da escola, onde, contudo, antigas crenças de ordem
religiosa e tradicional circulavam. A escola serviu então, como
palco privilegiado para a eclosão de um episódio de histeria
colectiva que reproduziu através de sintomas colectivos patológicos,
conflitos latentes na sociedade moçambicana, tanto na dimensão
individual como na dimensão colectiva. O facto de que as próprias
adolescentes encontravam-se veemente imbuídas da crença de que se
tratava de uma questão de ordem espiritual contribuiu e muito para
que se alimentasse a angústia e o caos. As crenças culturais,
fazendo parte da tradição, exercem um grande poder sobre o
psiquismo emergente das adolescentes.
No
caso das alunas da Escola Secundária Quisse Mavota, o contágio
psicológico resultou de medos e ansiedades que se sucederam à
disseminação da informação relacionada com o eminente perigo de
serem possuídas pelo espírito do (da) Vovó Quisse, tendo algumas
alunas tomado medidas protectoras baseadas nas suas crenças levando
para a escola terços e amuletos.
Perspectivas
Africanas sobre os Fenómenos Psicológicos é uma disciplina que
estuda a forma como os africanos concebem e interpretam os fenómenos
que ocorrem na mente e que por conta dessa interpretação
desencadeiam um comportamento.
É
importante falar dos estudos sobre Psicologia e Psicopatologia nos
países africanos, uma vez que estando em África o psicólogo
precisa entender a forma como os africanos, de acordo com a sua
cultura, interpretam os fenómenos psicológicos, e como os africanos
avaliam as doenças mentais, isso leva a percepção de que o
indivíduo não pode ser estudado e compreendido isoladamente do seu
contexto histórico, sociocultural e geográfico. Para se compreender
o africano é preciso perceber a sua espiritualidade uma vez que em
África a interpretação da saúde e doença não se separa da
tradição e da vontade dos mortos, este tema nos ajuda a perceber
que apesar de todos serem seres humanos, o Africano tem as suas
práticas e costumes que usa na interpretação dos fenómenos
psicológicos e na sua actuação, o psicólogo deve ter em conta a
essência do africano e o seu contexto.
Feito
o trabalho conclui-se que a África é o continente com mais
civilizações antigas, repleta da enorme diversidade que a
caracteriza, tudo isto se manifesta nas tradições que dizem
respeito a essência ou natureza do homem. O africano é dotado de
uma personalidade típica que o diferencia dos outros povos e, os
valores culturais dos africanos são preservados e transmitidos de
geração em geração.
A
Psicologia africana procura compreender o comportamento e os
processos mentais dos africanos tomando em consideração os aspectos
culturais. As doenças mentais e outras patologias no contexto
Africano tendem a ter uma explicação tradicional. Tomando como
exemplo concreto, em Moçambique a esquizofrenia é concebida como
sendo uma patologia oriunda do não acompanhamento tradicional nos
primeiros anos da vida, algumas patologias são concebidas como fruto
de uma maldição, feitiçaria ou mesmo da prática de swakuyila.
Os
africanos que foram vendidos ou raptados para diversos cantos do
mundo durante a guerra e que tinham de dar sentido ou significado à
realidade de novos lugar, condição e povo. Apesar de não estarem
na sua terra, o único meio de que dispunham para navegar e dar
sentido à nova condição de servidão e barbarismo era o mapa
mental de ser africanos, isto é, apesar de não estarem em África
não perderam por completo a sua africanidade, razão pela qual
encontramos hoje em dia os africanos vendidos como escravos no Brasil
que ainda vivem na base de algumas praticas típicas de África.
Davidoff,
L, L. (2001). Introdução
à Psicologia.
São Paulo: Pearson Makron Books
Doron,
R e Parot, F (2001). Dicionário
de Psicologia.
Lisboa: Climepsi Editores
Gouveia,L;
Langa, A; Mandlate,F; Matavel, J; Morais, A; Muthemba, R; Nhabinde,
A; Santos, P & Wate J. Histeria
Colectiva: caso da escola secundária Quisse Mavota em Maputo em
Revista Psique – Centro de Psicologia Aplicada e Exames
Psicotécnicos
Nobles,
W. (2009). Shaku
Sheti: Retomando e Reapropriando um Foco Psicológico Afrocentrado.
São
Paulo: Selo Negro
Nogueira,
S. (2013) Psicologia
crítica africana e descolonização da vida na prática da capoeira
Angola.
Recuperado
em
http://psicologiaeafricanidades.files.wordpress.com/2012/09/nobles-portugues.pdf
aos 10 de Março de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário