quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Teoria de Desenvolvimento Moral de Selman

Níveis de Entendimento Interpessoal
Segundo Sonego e Zamberlan (2006), Selman foi um pesquisador com pouco destaque, mas contribuiu muito para os estudos sobre moral no contexto escolar. Seu trabalho trata de um estudo longitudinal, com base em Piaget e Kohlberg, em que considera essencial a adopção de perspetiva do outro na assunção de papéis, no desenvolvimento do pensamento moral. Em outras palavras, o autor hipotétiza uma correlação entre cognição, moralidade e aspectos interpessoais.
Olhando mais para as salas de aulas, onde os ambientes em que os protagonistas agem e estão compostos por díades ou tríades (professor-aluno, aluno-aluno e professor-alunos-outros alunos) e nelas o desenvolvimento da autonomia esta relacionado ao potencial de adocção de perspetivas dos próprios papeis, dos papéis do outro e das espectativas sociais que se formam acerca dos mesmos (Sonego e Zamberlan, 2006).
Selman elaborou níveis específicos que mostram a progressão do entendimento interpessoal, ou seja, a evolução das estratégias de negociação empregada pela criança ao interagir numa situação em que há conflitos.
Segundo Sonego e Zamberlan (2006) Ao compreender esse desenvolvimento, o professor pode observar, nas situações em que suas crianças interagem um como as outras, os níveis de entendimento interpessoal, tendo assim maiores condições de realizar interações adequadas auxiliando-as nesse desenvolvimento. Ressalta-se que o facto de um sujeito atingir o nível superior não significa que actuara somente nesse nível. Cada nível permanece acessível mesmo que o posterior tenha sido atingido, ou seja, uma criança pode estar num porem em algumas situações pode agir no nível de entendimento de forma menos desenvolvida.


Níveis de Desenvolvimento da Moral
  1. Nível 0: Amizade Momentânea e Solução Física para os Conflitos.
As estratégias de negociação do nível 0 (zero) são egocêntricas, momentâneas e impulsivas, frequentemente utilizam manifestações físicas. A resolução de conflitos ocorre por meio de duas estratégias principais:
  • A de não-interação (fugir, afastar-se, esconder-se) a forma de raciocinar da criança parece indicar a inexistência de reflexos sobre os efeitos psicológicos (sentimentos, motivos) gerados nos envolvidos no conflito ao empregar determinada estratégia. A criança pode usar dois mecanismos:
Simplesmente sugerir que uma das partes envolvidas mude de atitude
Ex: quando o colega quer brincar de algo diferente do que ela quer, a criança abandona a brincadeira e vai brincar com outro brinquedo.
Sugerir a separação física por algum tempo
Ex: abandonar a briga, sair de perto ou mesmo negar ser amigo da outra criança.


  • A da interação física direta (lutar, agarrar, gritar e agredir) quando uma criança quer um brinquedo que está com outra e dirige-se ate ela e simplesmente retira-o do colega, ou quando, para fazer com que o colega ande mais depressa na fila, empurra-o ou cutuca-o sucessivas vezes.


  1. Nível 1: Amizade Unilateral e não Relacionada com a Solução dos Conflitos
O raciocínio do nível 1 reflete uma nova compreensão, a de que os efeitos psicológicos ou subjetivos do conflito nos envolvidos (desconforto, raiva, frustração) são tao importantes quanto os efeitos físicos (perder os brinquedos, machucar-se). Contudo, o princípio parece aplicar-se apenas quando diz respeito a um dos indivíduos envolvidos. Assim, para as crianças deste nível um conflito que é essencialmente sentido por uma parte é causado.
Ex: “o culpado” foi quem começou; quem retirou o brinquedo/ material ou que agrediu fisicamente, e o outro lado é vítima.
  1. Negação da acção problemática, reprovando, desse modo, os sentimentos ofendidos do amigo e dando comando ou ordem unilateral (obediência submissa da outra parte dessa resolução).
  2. Ter uma acção positiva que ira desenvolver o conforto ou propiciar calma psicológica à pessoa que esta experienciando o desconforto psicológico gerado pelo conflito.
  3. Com os conflitos ocorrem a partir de acções negativas de uma das duas partes, a criança também demonstra acreditar que as atitudes que levarão a resolução também dependem inteiramente deste

  1. Nível 2: Amizades bilaterais e Soluções Cooperativas para os Conflitos
O sujeito reconhece que ambas as partes participam psicologicamente no conflito e assim devem engajar-se activamente em sua resolução. A resolução satisfatória requer atender de certa forma a sensibilidade e o julgamento de cada um dos envolvidos.
Ex: Quando duas crianças brigam porque cada um quer jogar um jogo e resolvem o problema jogando primeiro com um e depois com o outro jogo.
A criança já acredita que somente uma fala ou um acto de reparação não é mais suficiente e que ter uma intenção coerente com o que se diz ou faz deve ser parte do acto de redimir uma pessoa, ou seja, ela deve ser sincera e estar arrependida ao pedir desculpas ou desenvolver o brinquedo.
Neste estagio a criança já é capaz de considerar reciprocamente os sentimentos e pensamentos dela própria e os do outro, e já distingue entre a aparência de manifestações externas (como palavras ou actos) e a verdade ou compreensões internas reais (como sentimentos ou intensões), sendo portanto capaz de compreender que os conflitos podem surgir quando alguém, por exemplo, num momento de raiva, diz ou faz algo sem imitação.

  1. Nível 3: Estabilidade de Amizade e Soluções Mutuas para os Conflitos
Neste nível há compreensão de que um certo conflito numa relação de amizade reside dentro do próprio relacionamento, concentrando-se mais na interação entre as partes do que nas manifestações exteriores de cada parte isoladamente.
  1. Os indivíduos neste nível acreditam que as resoluções não podem ser alcançadas somente por meio de um relaxamento das tensões da relação: cada lado deve sentir que ambos estão totalmente satisfeitos com a resolução tomada e também o estariam se estivessem em lugares trocados, ou seja, um no lugar do outro.
  2. O reconhecimento de que conflitos de amizades devem-se, talvez, a conflitos de personalidade de forma que a resolução implica numa mudança de personalidade.
  3. O reconhecimento de que conflitos de um certo tipo devem, de facto, fortalecer um relacionamento ao invés de enfraquecê-lo. Assim, os sujeitos veem a amizade verdadeira como uma continuidade no decorrer do tempo, mesmo havendo inúmeras diferenças.
  4. A estratégia de que conflitos devem ser, resolvidos, trabalhados ou então dialogados de maneira a esclarecer os aspectos envolvidos. Devido ao facto de que o sujeito neste nível concebe o motivo principal do conflito reside na relação entre as pessoas, o acto de trabalhar a situação-problema é compreendido como um processo mais difícil do que os tipos de resolução geralmente considerados adequados para sujeitos de nível 2. Como tal “trabalho é visto como um comprometimento de ambas as partes, há a consciência de que, por meio desta mutualidade (reciprocidade), a resolução do conflito deve fortalecer a relação ou os laços de amizade.
  5. Há uma distinção entre o conflito superficial e a existência de vínculos mais profundos. No nível 2 há a distinção entre os sentimentos íntimos e as aparências. No nível 3 há um reconhecimento mais profundo da dicotomia entre a relação intima imediata, durante uma situação de conflito, e a relação afetiva mais duradoura, que transcende tais sentimentos imediatos.
Assim, a própria relação acfetiva é vista como uma fonte de tratamento, um recurso para a resolução de conflitos entre as pessoas ou amigos íntimos.

  1. Nível 4: Interdependência Autónoma e Acção simbólica como uma Resolução para os Conflitos
Se a compreensão do nível 3 pode ser caracterizada uma mutualidade tecida na intimidade das relações, já nível 4 pode ser visto como uma rejeição parcial da tal mutualidade, pois esta obstrui o desenvolvimento autónomo. Ocorre uma certa rejeição a uma superdependencia ou união exagerada que é percebida nas relações de nível 3. Aqui o sujeito acredita que a total independência é tao infrutífera quanto a total dependência.
  1. Outro aspecto importante da resolução de conflito neste nível é a ideia de uma comunicação não-verbal, de tomar acções como simbólico (da reparação) do relacionamento.
  2. Uma outra característica a ser considerada é a compreensão de que os conflitos intrapsíquicos, ou seja, os conflitos que ocorrem dentro da pessoa, podem ser um factor de conflitos entre esta pessoa e o outro.
  3. Devido a compreensão de que se tem relações mais aprofundados com determinadas pessoas, havendo comprometimento constante umas com as outras, é preciso portanto “manter abertos os caminhos da comunicação.

Implicações Educacionais
O trabalho de Selman (1975) enfatizou os níveis de pensamento das crianças e adolescentes considerando a perspectiva própria, em relação ao outro e a este processo denominou Tomada de Perspectiva Social (TPS). Falando sobre como a criança compreende as relações, o autor argumenta que na compreensão da criança acerca dos outros, dos relacionamentos sociais em geral, está implicado seu nível de desenvolvimento cognitivo, da forma como é descrito por Piaget (Bianchini e Oliveira, 2008).

Autores:
  • Delto C. Muendane
  • Graziella Marinella Massingue
  • Joao Lucas Jangaia
  • Jhonson F. Pilima, 2015

1 comentário:


  1. Obrigado. Seus emails me ajudaram muito.
    Meu ex voltou e agora estamos mais felizes do que nunca. Adicionamos um novo membro à família (menino de 1 ano) 🙂
    e estamos prontos para nos mudar para nossa nova casa.
    obrigado. caso você tenha problemas em seu relacionamento, recomendo estas informações de contato ((templeofanswer@hotmail.co.uk / whatsapp 2348155425481))
    Claudia Hall

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