A noção de Locus de Controlo
A
noção de locus de controlo inicialmente formulado por Rotter
(1990), ao longo dos anos 50, na sua teoria de aprendizagem social,
afirma que a probabilidade de um comportamento específico ocorrer
numa dada situação é função da expetativa desse comportamento
levar à obtenção de um reforço bem como o valor do reforço para
o sujeito. A escala de locus de controlo de Rotter pretende avaliar a
expetativa do reforço ao longo de uma dada dimensão de controlo
interno Vs
externo
(Almeida e Pereira 2006 citando Cloninger, 1999).
Uma
característica de ser humano é viver com a noção ou sentimento de
posse de algum grau de segurança e controlo sobre o seu ambiente e
os acontecimentos da sua vida, em particular sobre as circunstancias
que podem ter percussões negativas, ou, proporcionar condições
positivas. Desta forma, as pessoas agem, quando desejam influenciar
diretamente os acontecimentos.
Ao fazê-lo, anseiam por um controlo pessoal, ou seja, o sentimento que
podem tomar decisões e implementar ações que conduzam aos
resultados desejados, evitar indesejados ou reduzir o impato dos
acontecimentos stressante.
As
perceções das pessoas relativas ao controlo que podem exercer sobre
o seu comportamento em geral e sobre o seu estado de saúde em
particular, são consideradas como um dos mais poderosos
determinantes das suas atitudes relativa à saúde, o que lhes
permite procurar informações, realizar escolhas, tomar decisões
implementar comportamentos relativos a saúde. O esforço para
compreender os motivos que levam os indivíduos a adotar
comportamentos saudáveis ou promotores de saúde tem sido também
uma das preocupações dos psicólogos de saúde (Almeida e Pereira,
2006).
Segundo
Almeida e Pereira (2006) citando Rotter (1990) Locus de controlo:
quando um reforço é percebido pelo sujeito como não sendo
completamente contingente as suas ações, então, na nossa cultura,
é tipicamente atribuído ao acaso, a sorte, ao destino ou estando
dependente do poder de outros poderosos, ou ainda como imprevisível,
devido a grande complexidade dos fatores envolvente. Quando um
acontecimento é percebido ou interpretado desta forma por uma
pessoa, designamos como uma crença num controlo externo. Se a pessoa
percebe ou interpreta este acontecimento (reforço) é contingente ao
seu comportamento ou depende de caraterísticas suas estáveis, então
designamos esta crença como controlo interno.
Rotter
considera necessário analisar a interpretação em quatro (4)
variáveis: o comportamento potencial- indica a probabilidade de um
comportamento (aberto ou fechado) ocorrer numa dada situação, em
função dos reforços- consequências positivas adquiridas ou
repercussões negativas evitadas; das expetativas- julgamentos
(cognição) subjetivos, baseados em experiência passada, quanto à
probabilidade de um reforço ocorrer como resultado de um
comportamento específico, do valor do reforço- indica a preferência
subjetivas (baseada em experiência passada) por tipo ou fonte de
reforço (motivação); e da “situação psicológica”-
perspetiva pessoal sobre os acontecimentos envolventes. Rotter
operacionaliza a sua teoria com a seguinte fórmula: Comportamento
Potencial na Situação= F
(EXPETATIVA x REFORCO), (Almeida e Pereira, 2006).
Locus de controlo em saúde
O
conceito de locus de controlo foi aplicado à saúde por Wallston
(1992) o qual desenvolveu instrumentos para avaliar em medida os
sujeitos concebiam o seu estado de saúde ou a sua doença como
controlados por eles próprios, pelo acaso ou outros significativos.
Foi publicada uma vastidão de literatura com base nesse conceito, da
qual parece constatar-se que os sujeitos com um locus de controlo
interno apresentam uma maior probabilidade de se envolver em
comportamentos promotores de saúde, apesar de uma situação de
doença aguda ou cronica poder ser mais vantajoso acreditar nos
outros poderosos, (Almeida e Pereira, 2006 citando Horne e Weinman,
1996).
O
conjunto de estudos com resultados mais promissores deriva do modelo
teórico, proposto por Rotter, sobre locus de controlo. De acordo com
a proposição teórica deste modelo, será de prever que sujeitos
com um maior sentido de controlo interno sobre a realidade acreditem
que podem influenciar a sua saúde e, desenvolvam em maior número
atitudes e comportamentos promotores de saúde, de manutenção de
bem-estar, de prevenção da doença ou do controlo da mesma
(Wallston, 1992 citado por Almeida e Pereira, 2006).
Para
Wallston, (1992) citado por Almeida e Pereira (2006) as crenças
especificas em relação à saúde teriam um maior poder de predição
do potencial do comportamento do individuo neste domínio (quando
este é valorizado pelo mesmo) do que expetativas mais generalizadas,
apesar de não serem tão estáveis quanto estas. O Locus de controlo
específico para a saúde focaria então as crenças específicas
quanto ao controlo de saúde, não sendo tão descritiva do constructo
mais amplo (traço de personalidade). Neste caso o potencial para o
individuo desencadear um conjunto de comportamentos relacionados com
a sua saúde deriva da função multiplicativa entre o grau em que o
sujeito acredita que as suas ações influenciarão o seu estado de
saúde (crença num locus de controlo interno) e a intensidade em que
o sujeito valoriza a sua saúde. Nesta perspetiva a valorização da
saúde será uma variável mediadora entre o locus de controlo
interno e os comportamentos relativos à saúde.
O
modelo Wallston diz que as crenças internas do controlo poderão ser
preditores da implementação de comportamento que promoverão ou
manterão a sua saúde se o individuo valorizar a sua saúde. Caso a
pessoas valorizar pouco a sua saúde ou privilegia outros domínios
da sua vida (como o Lazer e diversão), as crenças específicas do
controlo não permitirão qualquer predição do seu comportamento na
área da saúde.
Modelo
Wallston introduz algumas modificações na conceção de locus de
controlo de Rotter ao focar unicamente o domínio da saúde e não o
comportamento global dos indivíduos, bem como o fato de especificar
quais os valores que mediarão a relação expetativa-comportamento.
Desenvolvimento de locus de controlo
O
desenvolvimento das expetativas de controlo pessoal resulta de um
processo de aprendizagem social ao longo da vida, através de
observação ou das instruções e incentivos fornecidos pelos outros
significados para o desenvolvimento do sujeito.
Durante
a infância, a família é particularmente importante para o
desenvolvimento de uma noção do mundo como um espaço seguro,
previsível e controlável. Neste processo, os membros da família
servem de modelo de ação, de agentes reforçadores dos
comportamentos e esforço de controlo do ambiente de padrão de
comparação.
Na
sequência da infância, a adolescência é caraterizada como o
período de mais rápida transformação biológica, cognitiva e
social. Com essa rápida transformação aumentam os acontecimentos
stressantes, os quais podem desencadear uma sensação de descontrolo
sobre os acontecimentos envolventes e ações pessoais, causando
perturbações na adaptação dos sujeitos exigindo esforços de
controlo ou então abandonando-se à determinação de fatores
externos. Esta situação poderá ter uma maior expressão nas
crianças e adolescentes com patologias cronicas. É neste contexto
que surge as necessidades de conhecer as relações entre as
variáveis de personalidade de sujeito, as suas condições
biológicas (como ser portador de doença cronica), acontecimentos
geradores de ansiedade, e caraterísticas do ambiente envolvente que
favorecem o controlo da ansiedade e da adaptação.
Num
estudo feito por Cauce, Hannam, e Sargeant (1992), conclui-se que
pessoas com uma sensação de controlo pessoal interno pareciam ser
menos capazes de aceitar acontecimentos negativos exterior ao seu
controlo, pelo que teriam maior propensão a ação ou a utilizar o
apoio de recursos do seu meio ambiente. Assim um locus de controlo
interno estaria positivamente relacionado com a adaptação
psicossocial do adolescente, parecendo ter também um efeito protetor
face aos potenciais acontecimentos stressante (Almeida e Pereira,
2006).
Teoria de conduta planeada
A
teoria de conduta planeada foi desenvolvida por Ajzem em 1991 a
partir da teoria de ação racional- TAR, com a pretensão de prever
e explicar o comportamento humano em contextos particulares. Este
modelo foi formulado com base, na premissa de que o ser humano é um
ser racional e que, portanto, faz uso sistemático da informação
disponível aquando dos processos de tomada de decisão relativos à
execução ou não de determinado comportamento, os indivíduos tem
em conta as implicações das suas ações antes optarem por consumar
ou não um determinado comportamento (Ajzem e Fishbleim, 1980 citado
por Luís 2014).
O
elemento central da teoria de conduta planeada é a intenção
individual de executar um dado comportamento.
Subjacentes
à intenção encontram-se fatores motivacionais que influenciam o
comportamento em causa. Quanto mais forte a intenção de enveredar,
por um dado comportamento, mais provável será a sua consumação.
É, importante ter noção que a intenção comportamental apenas se
exterioriza num comportamento se este for dependente da vontade e
controlo do sujeito.
A
performance da maioria dos comportamentos depende pelo menos ate certo
ponto de fatores não motivacionais: oportunidades e recursos
representando o efetivo controlo do individuo sobre o comportamento.
Se estiverem presentes as oportunidades e recursos necessários e o
sujeito possuir a intenção de executar o comportamento, esta ira
ser consumada (Ajzem, 1988 citado por Luís, 2014).
Segundo
Ajzem (1988) citado por Luís (2014) a intenção do individuo face
ao comportamento é modulada e explicada por três fatores
fundamentais que se lhe sub-jazem:
- Atitude individuais face ao comportamento alvo;
- Estimativas individuais da pressão social relativa à consumação da conduta (norma subjetiva- NS);
- Elemento do controlo comportamental percebido (CCP).
Conclusão
A
partir deste ensaio concluímos que para a compreensão da relação
entre o sujeito psicológico e as entidades de saúde e doença,
necessária a compreensão da necessidade de uma confluência de
estudos multidisciplinares.
A
teoria de locus de controlo de Rotter, mostra-se aplicável para a
compreensão dessa relação, tanto que Wallston (1992) desenvolveu
instrumentos para avaliar em que medida os sujeitos concebiam o seu
estado de saúde ou a sua doença como controlados por eles próprios,
pelo acaso ou outros significativos.
A
teoria da conduta planeada foi formulada com base, na premissa de que
o ser humano é um ser racional e que, portanto, faz uso sistemático
da informação disponível aquando dos processos de tomada de
decisão relativos à execução ou não de determinado
comportamento.
Assim
essas duas teorias trazem-nos a compreensão de que o sujeito
psicológico em relação a saúde e doença pode ser activo ou
passivo dependendo das atribuições e dos conceitos sociais
construídos por sua sociedade, ou por si mesmo.
Autores:
- Arcenio André de Amaral;
- Delto C. Muendane;
- Jhonson F. Pilima;
- Iracema R. Uamusse, 2015
grande carapeto meu colega' gosto de ler um pouco dos temas abordados pelo vosso grupo, sao super construtivos
ResponderEliminarObrigado caro Erasmo! Continuação de uma boa leitura.
EliminarQual é a importância de locus de controlo para psicólogo social?
ResponderEliminarUma vez que a Psicologia social estuda a forma como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras, O locus de controlo é importante para a Psicologia social á medida em que a probabilidade de um comportamento específico ocorrer numa dada situação é função da expetativa desse comportamento levar à obtenção de um reforço bem como o valor do reforço para os sujeitos que se relacionam.
ResponderEliminarCerto
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