quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Locus de Controlo em Saúde

A noção de Locus de Controlo


A noção de locus de controlo inicialmente formulado por Rotter (1990), ao longo dos anos 50, na sua teoria de aprendizagem social, afirma que a probabilidade de um comportamento específico ocorrer numa dada situação é função da expetativa desse comportamento levar à obtenção de um reforço bem como o valor do reforço para o sujeito. A escala de locus de controlo de Rotter pretende avaliar a expetativa do reforço ao longo de uma dada dimensão de controlo interno Vs externo (Almeida e Pereira 2006 citando Cloninger, 1999).
Uma característica de ser humano é viver com a noção ou sentimento de posse de algum grau de segurança e controlo sobre o seu ambiente e os acontecimentos da sua vida, em particular sobre as circunstancias que podem ter percussões negativas, ou, proporcionar condições positivas. Desta forma, as pessoas agem, quando desejam influenciar diretamente os acontecimentos.
Ao fazê-lo, anseiam por um controlo pessoal, ou seja, o sentimento que podem tomar decisões e implementar ações que conduzam aos resultados desejados, evitar indesejados ou reduzir o impato dos acontecimentos stressante.
As perceções das pessoas relativas ao controlo que podem exercer sobre o seu comportamento em geral e sobre o seu estado de saúde em particular, são consideradas como um dos mais poderosos determinantes das suas atitudes relativa à saúde, o que lhes permite procurar informações, realizar escolhas, tomar decisões implementar comportamentos relativos a saúde. O esforço para compreender os motivos que levam os indivíduos a adotar comportamentos saudáveis ou promotores de saúde tem sido também uma das preocupações dos psicólogos de saúde (Almeida e Pereira, 2006).
Segundo Almeida e Pereira (2006) citando Rotter (1990) Locus de controlo: quando um reforço é percebido pelo sujeito como não sendo completamente contingente as suas ações, então, na nossa cultura, é tipicamente atribuído ao acaso, a sorte, ao destino ou estando dependente do poder de outros poderosos, ou ainda como imprevisível, devido a grande complexidade dos fatores envolvente. Quando um acontecimento é percebido ou interpretado desta forma por uma pessoa, designamos como uma crença num controlo externo. Se a pessoa percebe ou interpreta este acontecimento (reforço) é contingente ao seu comportamento ou depende de caraterísticas suas estáveis, então designamos esta crença como controlo interno.

Rotter considera necessário analisar a interpretação em quatro (4) variáveis: o comportamento potencial- indica a probabilidade de um comportamento (aberto ou fechado) ocorrer numa dada situação, em função dos reforços- consequências positivas adquiridas ou repercussões negativas evitadas; das expetativas- julgamentos (cognição) subjetivos, baseados em experiência passada, quanto à probabilidade de um reforço ocorrer como resultado de um comportamento específico, do valor do reforço- indica a preferência subjetivas (baseada em experiência passada) por tipo ou fonte de reforço (motivação); e da “situação psicológica”- perspetiva pessoal sobre os acontecimentos envolventes. Rotter operacionaliza a sua teoria com a seguinte fórmula: Comportamento Potencial na Situação= F (EXPETATIVA x REFORCO), (Almeida e Pereira, 2006).

Locus de controlo em saúde

O conceito de locus de controlo foi aplicado à saúde por Wallston (1992) o qual desenvolveu instrumentos para avaliar em medida os sujeitos concebiam o seu estado de saúde ou a sua doença como controlados por eles próprios, pelo acaso ou outros significativos. Foi publicada uma vastidão de literatura com base nesse conceito, da qual parece constatar-se que os sujeitos com um locus de controlo interno apresentam uma maior probabilidade de se envolver em comportamentos promotores de saúde, apesar de uma situação de doença aguda ou cronica poder ser mais vantajoso acreditar nos outros poderosos, (Almeida e Pereira, 2006 citando Horne e Weinman, 1996).
O conjunto de estudos com resultados mais promissores deriva do modelo teórico, proposto por Rotter, sobre locus de controlo. De acordo com a proposição teórica deste modelo, será de prever que sujeitos com um maior sentido de controlo interno sobre a realidade acreditem que podem influenciar a sua saúde e, desenvolvam em maior número atitudes e comportamentos promotores de saúde, de manutenção de bem-estar, de prevenção da doença ou do controlo da mesma (Wallston, 1992 citado por Almeida e Pereira, 2006).
Para Wallston, (1992) citado por Almeida e Pereira (2006) as crenças especificas em relação à saúde teriam um maior poder de predição do potencial do comportamento do individuo neste domínio (quando este é valorizado pelo mesmo) do que expetativas mais generalizadas, apesar de não serem tão estáveis quanto estas. O Locus de controlo específico para a saúde focaria então as crenças específicas quanto ao controlo de saúde, não sendo tão descritiva do constructo mais amplo (traço de personalidade). Neste caso o potencial para o individuo desencadear um conjunto de comportamentos relacionados com a sua saúde deriva da função multiplicativa entre o grau em que o sujeito acredita que as suas ações influenciarão o seu estado de saúde (crença num locus de controlo interno) e a intensidade em que o sujeito valoriza a sua saúde. Nesta perspetiva a valorização da saúde será uma variável mediadora entre o locus de controlo interno e os comportamentos relativos à saúde.
O modelo Wallston diz que as crenças internas do controlo poderão ser preditores da implementação de comportamento que promoverão ou manterão a sua saúde se o individuo valorizar a sua saúde. Caso a pessoas valorizar pouco a sua saúde ou privilegia outros domínios da sua vida (como o Lazer e diversão), as crenças específicas do controlo não permitirão qualquer predição do seu comportamento na área da saúde.
Modelo Wallston introduz algumas modificações na conceção de locus de controlo de Rotter ao focar unicamente o domínio da saúde e não o comportamento global dos indivíduos, bem como o fato de especificar quais os valores que mediarão a relação expetativa-comportamento.

Desenvolvimento de locus de controlo

O desenvolvimento das expetativas de controlo pessoal resulta de um processo de aprendizagem social ao longo da vida, através de observação ou das instruções e incentivos fornecidos pelos outros significados para o desenvolvimento do sujeito.
Durante a infância, a família é particularmente importante para o desenvolvimento de uma noção do mundo como um espaço seguro, previsível e controlável. Neste processo, os membros da família servem de modelo de ação, de agentes reforçadores dos comportamentos e esforço de controlo do ambiente de padrão de comparação.
Na sequência da infância, a adolescência é caraterizada como o período de mais rápida transformação biológica, cognitiva e social. Com essa rápida transformação aumentam os acontecimentos stressantes, os quais podem desencadear uma sensação de descontrolo sobre os acontecimentos envolventes e ações pessoais, causando perturbações na adaptação dos sujeitos exigindo esforços de controlo ou então abandonando-se à determinação de fatores externos. Esta situação poderá ter uma maior expressão nas crianças e adolescentes com patologias cronicas. É neste contexto que surge as necessidades de conhecer as relações entre as variáveis de personalidade de sujeito, as suas condições biológicas (como ser portador de doença cronica), acontecimentos geradores de ansiedade, e caraterísticas do ambiente envolvente que favorecem o controlo da ansiedade e da adaptação.
Num estudo feito por Cauce, Hannam, e Sargeant (1992), conclui-se que pessoas com uma sensação de controlo pessoal interno pareciam ser menos capazes de aceitar acontecimentos negativos exterior ao seu controlo, pelo que teriam maior propensão a ação ou a utilizar o apoio de recursos do seu meio ambiente. Assim um locus de controlo interno estaria positivamente relacionado com a adaptação psicossocial do adolescente, parecendo ter também um efeito protetor face aos potenciais acontecimentos stressante (Almeida e Pereira, 2006).

Teoria de conduta planeada

A teoria de conduta planeada foi desenvolvida por Ajzem em 1991 a partir da teoria de ação racional- TAR, com a pretensão de prever e explicar o comportamento humano em contextos particulares. Este modelo foi formulado com base, na premissa de que o ser humano é um ser racional e que, portanto, faz uso sistemático da informação disponível aquando dos processos de tomada de decisão relativos à execução ou não de determinado comportamento, os indivíduos tem em conta as implicações das suas ações antes optarem por consumar ou não um determinado comportamento (Ajzem e Fishbleim, 1980 citado por Luís 2014).
O elemento central da teoria de conduta planeada é a intenção individual de executar um dado comportamento.
Subjacentes à intenção encontram-se fatores motivacionais que influenciam o comportamento em causa. Quanto mais forte a intenção de enveredar, por um dado comportamento, mais provável será a sua consumação. É, importante ter noção que a intenção comportamental apenas se exterioriza num comportamento se este for dependente da vontade e controlo do sujeito.
A performance da maioria dos comportamentos depende pelo menos ate certo ponto de fatores não motivacionais: oportunidades e recursos representando o efetivo controlo do individuo sobre o comportamento. Se estiverem presentes as oportunidades e recursos necessários e o sujeito possuir a intenção de executar o comportamento, esta ira ser consumada (Ajzem, 1988 citado por Luís, 2014).
Segundo Ajzem (1988) citado por Luís (2014) a intenção do individuo face ao comportamento é modulada e explicada por três fatores fundamentais que se lhe sub-jazem:
  • Atitude individuais face ao comportamento alvo;
  • Estimativas individuais da pressão social relativa à consumação da conduta (norma subjetiva- NS);
  • Elemento do controlo comportamental percebido (CCP).

Conclusão

A partir deste ensaio concluímos que para a compreensão da relação entre o sujeito psicológico e as entidades de saúde e doença, necessária a compreensão da necessidade de uma confluência de estudos multidisciplinares.
A teoria de locus de controlo de Rotter, mostra-se aplicável para a compreensão dessa relação, tanto que Wallston (1992) desenvolveu instrumentos para avaliar em que medida os sujeitos concebiam o seu estado de saúde ou a sua doença como controlados por eles próprios, pelo acaso ou outros significativos.
A teoria da conduta planeada foi formulada com base, na premissa de que o ser humano é um ser racional e que, portanto, faz uso sistemático da informação disponível aquando dos processos de tomada de decisão relativos à execução ou não de determinado comportamento.
Assim essas duas teorias trazem-nos a compreensão de que o sujeito psicológico em relação a saúde e doença pode ser activo ou passivo dependendo das atribuições e dos conceitos sociais construídos por sua sociedade, ou por si mesmo.
Autores: 
  •  Arcenio André de Amaral; 
  • Delto C. Muendane; 
  • Jhonson F. Pilima;
  • Iracema R. Uamusse, 2015

5 comentários:

  1. grande carapeto meu colega' gosto de ler um pouco dos temas abordados pelo vosso grupo, sao super construtivos

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  2. Qual é a importância de locus de controlo para psicólogo social?

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  3. Uma vez que a Psicologia social estuda a forma como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras, O locus de controlo é importante para a Psicologia social á medida em que a probabilidade de um comportamento específico ocorrer numa dada situação é função da expetativa desse comportamento levar à obtenção de um reforço bem como o valor do reforço para os sujeitos que se relacionam.

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